Por Fernando Travaglini e Mario Sergio Lima.
Mudanças nas políticas econômicas globais, tensões geopolíticas e o desenvolvimento das reformas no Brasil estão entre os riscos vistos pelo Banco Central ao processo de desinflação e a um ciclo de corte de juros mais acelerado, segundo o presidente do BC, Ilan Goldfajn, em entrevista à Bloomberg.
Os mercados mostraram certo alívio nesta segunda-feira, após as eleições na França, mas é preciso esperar o resultado do segundo turno. Além disso, diz Ilan, há “um fator relevante” relacionado à mudança da política dos EUA e “não descartaria riscos geopolíticos que possam afetar incertezas no mundo”, afirma.
“Estamos numa conjuntura internacional que tem mudanças de políticas econômicas que podem levar a algumas mudanças globais que afetem todos os emergentes, inclusive o Brasil”, diz o presidente do BC, via teleconferência na sede em Brasília.
Se essas incertezas indicarem chance de muita volatilidade para o real, o BC deve agir rolando apenas parcialmente o estoque de swaps cambiais à frente. “Quando a gente percebe que há possibilidade de manter o estoque constante, de ser neutro, a gente mantém. Quando vê que há alguma possibilidade de ter alguma volatilidade excessiva a gente rola um pouquinho menos”.
Segundo ele, em abril a percepção era de que havia possibilidade de uma rolagem integral e uma atuação mais neutra. Para maio, Ilan diz que o BC vai observar incertezas externas e riscos internos. Questionado sobre o futuro e uma eventual zeragem do estoque com fluxo de divisas para o país, Ilan diz que o estoque atual “nos deixa mais confortáveis”, mas não descarta nenhuma alternativa.
“Não descartamos nada para frente, nenhum instrumento, nenhuma posição. Deixamos todas as opções abertas”, diz. “Temos o conforto de que o câmbio tem refletido tendências, riscos, tem atuado como tem de agir. Talvez com menos volatilidade em função da nossa atuação”.
Reforma entre fatores de riscos
Entre os fatores de riscos olhados pelo BC, as reformas têm papel de destaque. “Não tem uma questão pontual sobre reformas, como grau de desidratação, ou demora X ou demora Y. É o conjunto da obra que a gente vê que vai dar sustentação à economia mais sólida no futuro”, diz Ilan. A visão do BC sobre as reformas ainda é a mesma que foi colocada na última ata do Copom, até porque não houve “espaço para uma nova avaliação”, diz o presidente do BC. Há “riscos e incertezas que ainda predominam”.
Temer reuniu ministros e líderes do governo neste domingo para avisar que não há mais espaço para ceder a pedidos, segundo jornais. Hoje, reforma da Previdência não teria os 308 votos em plenário, disse o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, à Bloomberg. Maia admitiu na última sexta-feira adiar a votação da proposta de reforma da Previdência, inicialmente prevista para 8 de maio.
O BC acelerou o ritmo de corte da Selic na reunião de abril, para 1pp e justificou pelo caráter prospectivo da condução da política monetária, a continuidade das incertezas e dos fatores de risco que ainda pairam sobre a economia. O texto gerou certa dúvida no mercado se o BC está se referindo àquele encontro ou sobre os próximos. Ilan explica: “na época, o BC achava que era adequada a decisão do ritmo, no caso de 100, e que ia observar o desenvolvimento para frente para tomar a decisão do que vem a seguir”
“Indicamos que é adequado aquele ritmo e que vale a pena olhar os desenvolvimentos, riscos e incertezas para a frente”, diz Ilan, sobre parágrafo que cita argumentos de “membros do Comitê” de que a evolução da conjuntura econômica já permitiria uma intensificação do ritmo de flexibilização monetária maior do que a decidida nessa reunião.
CMN define meta para 2019
Com a importância cada vez maior de 2018 no horizonte da política monetária, o BC também deve avaliar o impacto sobre a política econômica quando o CMN se reunir em junho para debater a meta de inflação para 2019. Conselho vai olhar ainda para as estimativa de inflação, expectativas, projeções.
Ilan também se mostrou mais confiante de que a economia já está “num ponto de inflexão”. “Estamos mais confiantes que esse ponto está no primeiro trimestre e teremos recuperação mais à frente”, diz. “Me parece que o PIB do 1º trimestre deve ser positivo, mas estamos observando”
“Provavelmente teremos PIB positivo no primeiro trimestre e teremos recuperação gradual e contínua e melhorando enquanto passar o ano”. Como efeito de revisões na metodologia de cálculo do IBGE desde janeiro, o IBC-Br calculado pelo BC mostrou expansão mensal bem acima da esperada em fevereiro e trouxe também revisões que revertem os dados negativos do mês anterior.Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.