Impasse em tecnologia paralisa negociação entre EUA e China

Por Keith Zhai com a colaboração de Debra Mao, Jennifer Jacobs, Andrew Mayeda e Saleha Mohsin.

As negociações comerciais entre as duas maiores economias do mundo ruíram na semana passada, após a Casa Branca exigir que o governo chinês diminua o apoio a setores de alta tecnologia, de acordo com uma pessoa a par da situação. A informação indica que a solução do conflito pode estar distante.

Segundo a fonte, Liu He, vice-premiê responsável por economia e finanças, disse a um grupo de autoridades na quinta-feira que Pequim rejeitou a exigência dos EUA para parar de subsidiar setores contemplados na iniciativa “Made in China 2025”. Os EUA acusam a China de usar políticas públicas para forçar empresas a transferir tecnologia em áreas como robótica, aeroespacial e inteligência artificial.

As demandas americanas foram apresentadas após Pequim propor reduzir o déficit comercial em US$ 50 bilhões, com medidas como o aumento das importações de gás natural liquefeito, produtos agrícolas, semicondutores e bens de luxo, de acordo com a pessoa ouvida, que pediu anonimato porque as discussões são confidenciais. Os planos incluíam a abertura mais rápida do setor financeiro e dar a empresas americanas mais acesso ao mercado chinês de e-commerce.

De acordo com o relato, Liu declarou que o presidente Xi Jinping estava pronto para brigar se Donald Trump quiser iniciar uma guerra comercial. Liu também teria dito que a China estava aberta a conversar com os EUA, mas se recusa a iniciar negociações nas condições atuais.

O desentendimento sugere que a disputa comercial não será resolvida tão cedo, apesar das postagens otimistas de Trump no Twitter e dos comentários conciliadores de Xi durante um fórum econômico regional nesta terça-feira. Nos últimos dias, autoridades chinesas expressaram maior frustração com os EUA. Na segunda-feira, o Ministério das Relações Exteriores declarou que as conversas são “impossíveis” nestas condições.

Trump na segunda-feira sinalizou que o acordo com a China estava ao alcance, afirmando que seu governo “provavelmente” resolveria a disputa que abala os mercados financeiros e alimenta temores de que ocorra um grande embate entre as duas maiores economias mundiais. O discurso de Xi nesta terça impulsionou as bolsas asiáticas e o mercado de futuros de ações nos EUA.

Xi prometeu uma “nova fase de abertura” e reiterou planos para permitir maior participação estrangeira nos setores automotivo e bancário, entre outros, acrescentando que a China fortaleceria as proteções a direitos de propriedade intelectual. O presidente também defendeu que outros países exportem bens de alta tecnologia para a China, o que é um ponto de conflito com os EUA. O diário oficial publicou após o discurso um comentário afirmando que Pequim não se abriria às custas de seus interesses – sinal de que continuará apoiando a iniciativa “Made in China 2025”.

Transferência de tecnologia

Um representante da Casa Branca elogiou os comentários de Xi sobre propriedade intelectual, mas ressaltou que atitudes são mais importantes do que palavras. Segundo essa pessoa, há consenso dentro do governo Trump que empregos nos EUA são ameaçados pelo que as autoridades consideram transferência forçada de tecnologia e roubo de propriedade intelectual orquestrado pelo Estado chinês.

O órgão que representa o governo central chinês não respondeu perguntas enviadas pela reportagem na segunda-feira sobre as negociações comerciais. A Casa Branca não quis comentar detalhes, mas um representante afirmou que a China precisa mudar o comportamento e tomar providências para alterar a trajetória de seu relacionamento comercial com os EUA.

Os comentários de Liu – que foi a Washington em fevereiro e lidera a resposta do governo chinês às decisões de Trump sobre comércio – sugerem que a disputa não será resolvida facilmente. O encontro foi realizado antes de Trump instruir subordinados a considerar tarifas sobre mais US$ 100 bilhões em importações chinesas, elevando o total para US$ 150 bilhões. O déficit comercial dos EUA com a China chegou a US$ 375 bilhões no ano passado.

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