Impeachment vai desviar o Brasil da quebradeira?

Notícia exclusiva por Marisa Castellani e Josué Leonel, com a colaboração de Denyse Godoy.

Está crescendo no mercado a preocupação com o endividamento — o que vai exigir de uma nova equipe econômica, que sucederia o time de Dilma Rousseff, ações rápidas. Nesta semana apareceram sinais de que o tamanho dessa crise da dívida pode ser maior do que o imaginado antes: Bradesco e Itaú anunciaram aumentos substanciais de provisionamento e a Serasa registrou aumento de 98% nas recuperações judiciais no primeiro quadrimestre em relação ao ano passado.

Além disso, estados endividados, a ponto de atrasarem salários do funcionalismo e pensões, chegaram ao ponto de recorrer ao principal tribunal do País, o STF, em busca de solução para suas dívidas.

A pergunta que os analistas se fazem agora é se a eventual mudança de governo poderá contornar os problemas de forma decisiva, ou se o país ainda tem muito o que piorar antes de entrar numa fase de recuperação.

“Estamos na maior recessão da história e a questão da dívida é central”, diz Gustav Gorski, economista-chefe da Eleven Financial Research. Segundo ele, um eventual governo Temer tem condições de minimizar o problema da dívida, desde que o enfrente de maneira direta e rápida. Para grandes empresas e bancos estatais, como Petrobras, Banco do Brasil e Caixa, por exemplo, o ajuste deve exigir capitalização, diz Gorski.
 

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O economista da Eleven considera que a gravidade da crise não comporta soluções gradualistas. Caso um discurso de ação gradual prevaleça no governo Temer, “vamos ter continuidade do que estamos vendo, empresas diminuindo de tamanho, dificuldades de financiamento maiores, planejamento das empresas limitado à tesouraria”, diz. “O PIB continuará caindo, inflação virá para baixo porque a economia vai desmoronar. Levaremos mais tempo para voltar ao equilíbrio e ao crescimento econômico.”

A divulgação do balanço dos dois maiores bancos privados brasileiros foi emblemática do problema de endividamento no País. O Itaú anunciou nesta terça-feira que a provisão para perdas com financiamentos cresceu para R$ 7,23 bi no primeiro trimestre deste ano, ante R$ 5,52 bi no trimestre anterior. Na semana passada, o Bradesco também divulgou aumento das provisões, de 52%, para R$ 5,44 bi. Uma parte substancial deste valor – R$ 836 milhões – seria devido à Sete Brasil, segundo pessoa com conhecimento direto do assunto. A empresa entrou com pedido de recuperação judicial na semana passada.

Gorski observa que no início de 2011, começo do governo de Dilma Rousseff, o mercado projetava um crescimento de 4,5% do PIB nos anos seguintes. O PIB, contudo, avançou bem abaixo disso e, a partir de 2015, mergulhou em recessão profunda. O economista calcula em pouco mais de 30% a diferença entre o PIB projetado seis anos atrás e o resultado efetivamente observado, considerando-se recessão estimada em 3,8% para este ano. Tal crescimento frustrado do PIB, segundo Gorski, equivale a R$ 1,9 trilhão em riqueza prevista, mas não gerada. Créditos concedidos com base naquela previsão de crescimento anterior hoje exigem provisionamento maior dos bancos pela frustração das perspectivas de retorno.

“O cenário para as famílias e empresas no curto prazo é muito complicado”, diz João Morais, economista da Tendências Consultoria. “Há uma queda na concessão de crédito. Não há demanda e, por outro lado, os bancos estão mais cautelosos diante dos riscos elevados.” A inadimplência avança e o número de casos de recuperação judicial, que já cresceu 55% em 2015, cresce em ritmo ainda maior neste ano, destaca o economista.

O pessimismo só não é maior porque o mercado tem esperança em um novo governo que adote políticas mais consistentes, diz Morais. Também ajuda a amenizar os riscos o fato de o sistema financeiro continuar com posição sólida. Se houver frustração na expectativa de mudança política, “o risco de quebradeira, que já existe , vai se agravar ainda mais’’.

Para Juliano Ferreira, estrategista da corretora Icap do Brasil, uma política fiscal mais consistente poderá melhorar as perspectivas em relação ao aumento do endividamento público. O alívio no endividamento das famílias e do setor privado poderia vir em um segundo momento, segundo ele, dependendo de “a engrenagem da economia melhorar”, com o ganho inicial de confiança gerando recuperação das receitas e da capacidade de pagamento das dívidas.

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