Incerteza de investidores guia próximos passos de Draghi

Por Jana Randow e Carolynn Look.

O silêncio de Mario Draghi sobre o futuro do programa de compra de títulos (“quantitative easing”) está complicando um aspecto-chave do processo de políticas do Banco Central Europeu.

O presidente do BCE e seus colegas normalmente fundamentam mudanças de estratégia com suas projeções econômicas, cuja base são indicadores de mercado que incluem expectativas para as futuras políticas. Exceto pelo fato de que, menos de quatro meses antes do fim do atual programa de compra de ativos, o Conselho do BCE ainda não divulgou nenhum detalhe sobre a escala dos estímulos depois de 2017.

O resultado é que os investidores estão sendo obrigados a adivinhar as intenções do BCE, potencialmente deixando Draghi com um conjunto de previsões econômicas distorcidas pelas perspectivas do mercado para o crescimento e a inflação. Embora a incerteza quanto às projeções seja um problema perene para qualquer banco central, a questão é especialmente crítica para o BCE neste momento, já que as autoridades monetárias começam a deliberar o quão rápido podem encerrar um programa de estímulo não convencional.

“O BCE está definindo sua política monetária com base em projeções, que estão baseadas em preços de ativos que refletem a melhor aposta do mercado sobre o que o BCE vai fazer”, disse Richard Barwell, economista do BNP Paribas Asset Management em Londres. “A coisa toda é circular.”

O Conselho do BCE dá início à sua reunião de dois dias de política monetária nesta quarta-feira, quando receberá a última atualização para suas projeções econômicas, e há muita expectativa de que a autoridade monetária irá discutir formalmente, pela primeira vez, suas opções de estímulos para o ano que vem. O crescimento econômico robusto e cada vez mais generalizado tem alimentado rumores de que as compras de ativos, programadas em 60 bilhões de euros (US$ 71 bilhões) por mês até pelo menos dezembro, serão reduzidas mesmo com a inflação ainda abaixo da meta.

Isabelle Mateos y Lago, da BlackRock, estima uma única redução para até 30 bilhões de euros por mês, enquanto a Collineo Asset Management projeta que as autoridades monetárias só começarão a diminuir as compras de ativos a partir de 2019 e levarão dois anos para encerrar completamente o programa. Economistas ouvidos pela Bloomberg estimam que o BCE irá reduzir gradualmente as compras ao longo de nove meses a partir de janeiro.

Risco em dezembro

Os investidores correm o risco de ter de ficar esperando uma decisão definitiva. O Conselho do BCE pode não estar preparado para definir sua estratégia antes de dezembro, segundo pessoas a par do assunto. Embora as autoridades estejam cientes de que não devem deixar os investidores no escuro até o último dia de negociação do ano, talvez só possam dar indicações gerais nesta semana ou durante o próximo encontro, em 26 de outubro.

O BCE diz que suas projeções, atualizadas trimestralmente, são calculadas com base em estimativas de preços de mercado tais como taxas de juro, câmbio, ativos e petróleo. Esses preços podem mudar drasticamente — o euro se valorizou mais de 7 por cento desde meados de maio, a data de corte para a rodada anterior de projeções. Além de suas fórmulas-padrão, o banco central também utiliza modelos-satélite para medir o impacto de políticas não convencionais.

Draghi se esquivou em junho quando perguntado sobre o quanto as projeções mais recentes são apoiadas pelo banco central. Sua resposta foi que a expectativa de aceleração da inflação tem base em uma “quantidade muito substancial de acomodação monetária” e “é isso o que está nas projeções”.

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