Incertezas na economia custam caro ao BC e Tesouro

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

O pacote fiscal reforçou a percepção de que Joaquim Levy permaneceu na Fazenda, mas com poderes limitados. Cortes mais profundos de despesas e as mudanças que o ministro considera urgentes na Previdência não vieram. A incapacidade de o governo ajustar a economia tem seu preço: o mercado projeta juros maiores para Banco Central segurar a inflação e o Tesouro tem de pagar taxas maiores quando vende títulos da dívida.
 

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A inflação implícita anual projetada com base nos títulos brasileiros atingiu 8,62% hoje, perto do maior nível desde novembro de 2012. Apesar de o BC manter o discurso de que a inflação vai convergir para a meta de 4,5% nos próximos anos, o ceticismo do mercado aumentou sobretudo a partir de agosto, quando começaram a ficar mais claras para o mercado as dificuldades do governo em reverter o déficit fiscal.

O Instituto Lula negou hoje matéria do Valor de que o ex-presidente estaria pressionando a presidente Dilma Rousseff a mudar a política econômica. O dólar saiu das máximas após a notícia, mas continuou com valorização expressiva, na casa de 1,5%.

Também na contramão do BC, que tem sinalizado manutenção da Selic, o mercado de juros futuros projeta mais de 1 ponto percentual de alta adicional da taxa básica. O principal motivo deste descompasso é o dólar, que voltou a ultrapassar R$ 3,90 na máxima de hoje com o receio de que o governo não cumpra o ajuste fiscal, retomando nível atingido quando a S&P retirou o grau de investimento do Brasil.

Com a alta do dólar, os economistas do mercado voltaram a aumentar as estimativas para o IPCA em 2016, que agora estão em 5,64%, contra 5,40% até julho, mais de 1 ponto acima do centro da meta.

A grande questão para o mercado, sobretudo para quem aposta na renda fixa, é se o BC vai realmente retomar a alta dos juros, como apontam as taxas do mercado de DI, ou se a equipe comandada por Alexandre Tombini vai se manter fiel à sinalização de manutenção da Selic. Para o mercado, a resposta está no dólar, que responde a fatores independentes da vontade do BC, como o ajuste fiscal, a sorte de Levy no governo, a política monetária do Fed e a economia chinesa.

“O meu cenário básico ainda é de Selic estável, mas se o real continuar com desempenho pior que o de outras moedas o BC pode ter de retomar a alta do juro”, diz Italo Lombardi, economista-sênior do Standard Chartered Bank em Nova York. Para ele, a recente pressão cambial deve-se à dificuldade do governo em aprovar o ajuste, combinada com as incertezas sobre a política econômica.

Embora uma retomada da alta dos juros possa gerar resistências políticas, seu impacto negativo sobre a atividade econômica pode ser limitado. Isso porque as taxas já vêm subindo no mercado, acompanhando a aceleração da alta do dólar nas últimas semanas. A taxa do DI para janeiro de 2021, por exemplo, está em 15,29%. Ou seja, enquanto o BC está parado, o mercado já subiu os juros.

Além de tornar mais difícil a tarefa do BC, a incerteza política também traz custos maiores para o Tesouro, que teve de cancelar dois leilões de títulos prefixados. Não se trata de um risco grave, pois o Brasil não tem um problema de solvência de curto prazo. Contudo, na melhor hipótese, o governo deve ter de pagar juros maiores e colocar títulos mais curtos para captar recursos. No leilão de hoje, a NTN-F para 2015 saiu a 15,44% ao ano, em mais uma evidência de que a conta pelos desvios da política econômica dos anos anteriores chegou, e salgada.

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