Incertezas persistem no mercado após corte de juros na China

Notícia exclusiva por Josué Leonel, com a colaboração de Alex Lima.

O Ibovespa sobe após a China cortar os juros, ajudando as bolsas internacionais a recuperar parte das perdas dos últimos dias. No entanto, a alta das ações é modesta e o dólar já reverteu a queda vista mais cedo.

Embora a crise política no Brasil e a possibilidade de o Fed elevar os juros até o final do ano sigam no radar, a queda de 22% da bolsa de Xangai nos últimos 4 pregões colocou o maior parceiro comercial do Brasil no topo dos riscos monitorados pelo mercado.

O risco maior é o de que o crescimento chinês, que já recuou de mais de 10% na década passada para os atuais 7%, siga desacelerando. A desvalorização do yuan na semana passada foi vista como um possível sinal de que o governo chinês esteja vendo um risco maior do que o mercado vinha considerando para economia. Para o Brasil, uma desaceleração na China, que responde ainda por 19% de todas as exportações, chegaria em momento altamente inoportuno, com o mercado já prevendo uma recessão de 2% para este ano.

“Há uma preocupação grande sobre o impacto que a desaceleração da China tenha nos mercados e sobre a capacidade das autoridades do país em controlar este processo”, diz Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs em Nova York. Internamente, o ajuste fiscal “anda devagar” e não ajuda a amortecer o impacto da turbulência externa.

O Goldman Sachs elevou a previsão para dólar em 12 meses de R$ 3,55 para R$ 4,00 em 12 meses, juntando-se a outros bancos, como o Societé Générale, que também elevaram as projeções recentemente. Para Ramos, um dólar mais alto é necessário para o País ajustar a economia e o BC, mesmo tendo reservas de US$ 370 bilhões, não deve usá-las para conter o enfraquecimento do real.

“Com a inflação em 9,5%, a pressão do câmbio é um problema adicional, mas segurar a alta do dólar para conter os preços internos seria um erro. Para isso existe a política monetária”, diz o economista. O dólar, atualmente perto de R$ 3,50, já atingiu o seu ponto de equilíbrio, mas ainda assim o Brasil precisa de uma cotação mais alta para estimular as exportações. Quando a economia está bem, o dólar pode ficar no “fair value” ou até abaixo. Mas com a recessão, déficits fiscal e em conta corrente, e ainda mais os “ruídos políticos” e a incerteza externa, o real tem de estar mais desvalorizado.

As incertezas em relação à China também decorrem da antiga desconfiança de segmentos do mercado com a transparência dos indicadores econômicos do País. Os últimos resultados do PIB mostraram um crescimento em linha com o objetivo do governo de expansão de 7%. No entanto, outros indicadores, como os PMIs, seguem apontando atividade mais fraca. O PMI de julho, que sai na próxima semana, tem estimativa de 49,6. Leituras abaixo de 50 neste índice apontam retração da atividade industrial.

A perda de ritmo do crescimento na China ainda está em curso e mercados ainda não precificaram uma desaceleração maior, diz Camila Abdelmalack, economista da CM Capital Markets. E, com o governo sem capacidade de aumentar gastos e nem o Banco Central podendo cortar juros, a capacidade de o Brasil agir para conter o impacto de um eventual agravamento da crise chinesa é limitado.

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