Índice dólar do Fed dá a Yellen razão para subir juros lentamente

Por Jennifer Surane e Andrea Wong.

O forte aumento do dólar que ajudou a convencer o Federal Reserve a não elevar as taxas de juros pelo menos até dezembro também sustenta a tese de que o caminho será de crescimento raso.

O dólar saltou 0,9 por cento em relação ao dólar australiano nesta segunda-feira e alcançou o ponto mais forte em sete meses contra o euro. O dólar chegou ao ponto mais alto dos últimos 12 anos neste mês, de acordo com um índice que o Fed criou para monitorar a moeda norte-americana comparando-a com as moedas dos maiores parceiros comerciais do país. A apreciação ponderada pelo comércio aconteceu principalmente em comparação com os grandes exportadores, incluindo Europa e China. Os contratos futuros indicam que a taxa chegará a 0,80 por cento em dezembro de 2016, enquanto as estimativas mais recentes dos assessores do Fed mostraram, em setembro, que eles esperam aumentar as taxas em cerca de 1 por cento no próximo ano.

A força da moeda é um dilema para a presidente do Fed, Janet Yellen, quando os responsáveis pela política se preparam para aumentar as taxas de quase zero. O fortalecimento do dólar, que reduz o custo das importações e torna mais difícil que os preços subam o suficiente para chegarem à meta de inflação de 2 por cento do Banco Central, pode enfraquecer o ritmo dos aumentos dos juros e punir a moeda dos EUA em comparação com as moedas de seus principais parceiros.

Dólar forte

“O Fed já mencionou em algumas declarações recentes que está preocupado com o impacto de um dólar muito forte”, disse Lutz Karpowitz, estrategista sênior de câmbio do Commerzbank, em Frankfurt. “Isso significa que no momento em que a valorização do dólar fosse muito forte, o Fed ajustaria sua política monetária. O ciclo de aumento de taxas poderia ser ainda mais cauteloso do que o mercado espera no momento”.

Visão do Fed

A decisão de adiar o aumento das taxas ajudou a equilibrar os ventos contrários causados por um dólar fortalecido, disse o vice-presidente do Fed, Stanley Fischer, em discurso, no dia 12 de novembro. O crescimento contido do dólar vai persistir bem até o próximo ano e significará uma fraqueza continuada nos setores de produção de bens de capital, disse ele.

Entre as evidências do efeito do dólar na economia está o fato de os bens produzidos nos Estados Unidos serem menos atraentes nos mercados externos. As exportações totalizaram US$ 188 bilhões em setembro, uma queda de 5 por cento em comparação com o ponto mais alto da história, em outubro de 2014, de acordo com dados do Departamento do Comércio.

Concorrência internacional

As empresas norte-americanas também enfrentam um aumento na concorrência internacional. Os preços dos bens importados, sem contar o petróleo, tendem a cair 3,2 por cento a cada apreciação de 10 por cento do dólar, segundo uma análise divulgada na quarta-feira pelos pesquisadores do Fed de Nova York, Thomas Klitgaard e Patrick Russo.

Apesar de considerar o efeito da moeda na economia, o Fed não tem o controle completo. Os bancos centrais globais vêm cortando os juros e adicionado estímulos monetários para reforçar suas economias, tornando suas moedas menos atraentes em relação ao dólar.

O Banco Central Europeu poderá impulsionar seus programas de estímulo já no próximo mês com uma queda da inflação e perspectivas econômicas piores. O Banco do Japão manteve seu inédito programa de flexibilização inalterado em 19 de novembro, depois que um relatório mostrou que o país entrou em recessão no terceiro trimestre. A China, segunda maior economia do mundo, cortou a taxa cinco vezes em 2015.

O índice ICE US Dollar, que serve como o ativo subjacente para vários derivativos, tem um peso de 58 por cento para o euro e de 14 por cento para o iene. O índice não conta com nenhuma representação dos mercados emergentes, que respondem por mais da metade do fluxo comercial total dos EUA.

O índice do Fed, que terá sua atualização semanal na segunda-feira, subiu quase 3 por cento no mês passado, um ritmo comparável aos períodos anteriores às reuniões de março e setembro. Os formuladores de políticas reduziram suas previsões para a taxa nas duas reuniões, com Yellen dizendo que o dólar forte contribuiu para os ventos contrários econômicos e para um caminho de aperto mais gradual.

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