Por Selcuk Gokoluk.
A alta de inflação no Leste Europeu está dando mais um motivo para os investidores de mercados emergentes comprarem títulos latino-americanos.
A recuperação dos preços de energia reacendeu a inflação nos antigos satélites da União Soviética, aumentando as chances de elevação dos juros pelos bancos centrais e reduzindo o apetite pelos rendimentos oferecidos por esses países, que estão entre os menores nos mercados emergentes. A situação incentiva investidores insatisfeitos com governos protecionistas da Polônia e da Hungria a buscar rendimentos maiores em papéis do Brasil e da Argentina, de acordo com a Pioneer Investment.
“A alta da inflação vai causar venda de ativos de duração porque não esperamos postura fortemente agressiva da política monetária” para conter o avanço dos preços, disse Hakan Aksoy, gestor de carteiras em Londres da Pioneer, que ajuda a supervisionar US$ 15,5 bilhões em dívidas de mercados emergentes e se decidiu por alocações abaixo das referências em ativos da Europa Central e do Leste Europeu. Segundo ele, a dívida da América Latina é “mais atraente”.
Entre os fundos dedicados a mercados em desenvolvimento, a quantia aplicada em dívidas da Polônia é a menor desde maio de 2014 e, no caso da Hungria, a menor desde janeiro de 2013, de acordo com um relatório publicado pelo Morgan Stanley em 8 de fevereiro. Paralelamente, as aplicações em títulos do Brasil e da Argentina estão nos maiores níveis desde janeiro de 2012 e outubro de 2014, respectivamente.
Os cinco mercados emergentes que oferecem os menores rendimentos nos títulos em moeda local são todos na Europa. República Checa, Eslovênia e Eslováquia chegam a cobrar dos investidores que detêm suas dívidas, segundo dados compilados pela Bloomberg.
Já os títulos da dívida pública brasileira proporcionaram retorno de 10 por cento neste ano, o melhor desempenho entre os mercados emergentes e quase cinco vezes mais do que o ganho oferecido por títulos poloneses. As dívidas da República Checa e da Hungria são as de pior desempenho após as da Turquia, com perdas de 1,2 por cento e 0,8 por cento, respectivamente, segundo o Emerging Market Local Sovereign Index, da Bloomberg. A dívida polonesa em moeda local com prazo de 10 anos rendia 3,90 por cento na quinta-feira, comparado a uma taxa de 10,37 por cento para os títulos brasileiros de prazo equivalente.
Saindo do Leste Europeu
Na Polônia, a inflação em 12 meses avançou mais do que o esperado em janeiro, chegando a 1,8 por cento, após alta de 0,8 por cento em dezembro, de acordo com dados oficiais divulgados na segunda-feira.
Na República Checa, o índice de preços ao consumidor subiu 2,2 por cento em janeiro e inesperadamente excedeu a meta do banco central, de 2 por cento, pela primeira vez em quatro anos.
Na Hungria, a inflação em dezembro foi a maior em mais de três anos e se acelerou para 2,3 por cento em janeiro.
A expectativa é que isso se prove desfavorável, segundo a Insight Investment Management, que no trimestre passado vendeu todos os títulos poloneses, húngaros e checos de suas carteiras.
“A tendência da inflação na Polônia é para cima, na nossa visão”, disse Colm McDonagh, responsável por dívidas de mercados emergentes na Insight, que ajuda a supervisionar US$ 4,5 bilhões aplicados em títulos de nações em desenvolvimento. “É mais um reflexo de que a inflação na Europa Central e no Leste Europeu será influenciada pela inflação nas principais economias da Europa. Preferimos o Brasil, a Argentina e, em menor medida, a Colômbia.”
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