Influência de ‘O Aprendiz’ é mais um sucesso de Trump

Por Stephanie Baker e Blake Schmidt.

Quando Donald Trump virou estrela dos reality shows, há mais de uma década, com seu característico grito “Você está demitido!”, poucos membros da elite americana levavam o programa a sério. Parecia mais uma forma de unir dinheiro, fama e vulgaridade, e não o início de uma carreira presidencial.

Eles estavam errados, é claro. “O Aprendiz” não apenas lançou as bases para transformar Trump em uma figura pública admirada, mas também deu início a uma marca global que lhe rendeu milhões e influenciou a criação de novas figuras em terras distantes. Versões do programa em mais de 20 países geraram um grupo surpreendente de estrelas da televisão estilo Trump que se transformaram em políticos.

No Brasil, um ex-apresentador do programa local foi eleito recentemente prefeito de São Paulo. No Reino Unido, outro virou czar corporativo do governo. Na Finlândia, um ex-apresentador se tornou membro do Parlamento, e na Geórgia, outro se tornou primeiro-ministro.

“Com os dois anos de reality, ganhei uns pontos, mas não suficiente, porque comecei com 2%”, disse João Dória, um rico empresário brasileiro dono de uma empresa de relações públicas em São Paulo, que apresentou a versão local de 2010 a 2011 e agora é prefeito da cidade. “Acho que ajudou sim a cultivar imagem de administrador.”

Harry Harkimo apresentou a versão finlandesa, chamada “Diili” — “negócio”, em finlandês –, em 2009 e 2010, antes de ser eleito para o Parlamento, em 2015. Como muitos apresentadores de versões do programa, ele adotou o estilo Trump para demitir os participantes, apontando o dedo e gritando “Sa saat potkut!” — “Você está fora!” em finlandês. Harkimo, dono da equipe de hóquei no gelo Jokerit, elogiou Trump em um artigo escrito em dezembro.

Há quem tenha subido a aposta para aumentar o drama. Alan Sugar, que apresenta a versão britânica desde 2005 e é membro da Câmara dos Lordes, oferece um investimento de 250.000 libras (US$ 312.000) para a ideia de negócio do vencedor. Isso se encaixa perfeitamente com seu papel de czar corporativo do governo do Reino Unido, no qual tem a tarefa de incentivar a formação de novas empresas.

Da TV à política

A passagem dos apresentadores do programa para a política coincide com o aumento no número de eleitores em todo o mundo que culpam os políticos tradicionais por uma série de problemas, da compressão dos salários até a perda de empregos. “O Aprendiz” virou plataforma para os empresários cultivarem a fama de especialista não-político e sem rabo preso que faz as coisas acontecerem.

“Obviamente quando os sistemas políticos não estão funcionando — e, sob vários aspectos, as pessoas sentem que não estão –, as pessoas buscam uma aura de autenticidade”, disse Todd Gitlin, presidente do programa de doutorado da Faculdade de Jornalismo de Columbia, em Nova York. “A estrela de reality show cria uma ligação estranhamente íntima com um público que acaba vendo-o como seu representante.”

Apesar de tantos apresentadores terem seguido os passos políticos de Trump, muitos não são fãs dele. “O jeito, a forma de ser (de Trump) não é aquele que eu mais aprecio”, disse Dória, o prefeito de São Paulo. Sugar também é um crítico de longa data. Em abril, ele comparou Trump a Hitler em um tuíte. Sugar preferiu não comentar o assunto nesta reportagem.

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