Por Stefan Nicola.
Quer influenciar uma eleição? Você só precisa de uns US$ 400.000, de acordo com a consultora de segurança cibernética Trend Micro.
Essa é a quantia necessária para comprar seguidores em plataformas de redes sociais como Facebook e Twitter, contratar empresas para escrever e disseminar notícias falsas durante 12 meses e operar sites sofisticados para influenciar a opinião pública, de acordo com Udo Schneider, especialista em segurança para o mercado de língua alemã da Trend Micro.
“Hackear o processo de votação em si não vale a pena, porque isso deixa rastros, é muito caro e é desafiador tecnologicamente”, disse Schneider na quarta-feira, em uma conferência sobre segurança organizada pela Deutsche Telekom em Berlim. No entanto, influenciar a opinião pública através de notícias falsas e vazamentos de dados, como acredita-se que tenha ocorrido durante a campanha eleitoral dos EUA e da França, é relativamente simples e “também poderia acontecer antes das eleições alemãs”.
Os políticos alemães estão cada vez mais preocupados de que forças externas tentem influenciar a eleição do país, marcada para 24 de setembro, na qual a chanceler Angela Merkel buscará o quarto mandato. Autoridades seniores de segurança apontaram que a Rússia estaria empurrando notícias falsas e apoiando dissimuladamente hackers que atacaram o Parlamento alemão, além de dois think tanks associados aos democratas-cristãos e aos sociais-democratas, os dois principais partidos da Alemanha. A Rússia negou diversas vezes ter hackeado governos estrangeiros.
Os partidos políticos da Alemanha são “completamente transparentes” para os hackers motivados, porque sua infraestrutura geralmente não está bem protegida, disse Frank Rieger, porta-voz do Chaos Computer Club, um coletivo alemão de cerca de 5.500 hackers que atua no monitoramento tecnológico na maior economia da Europa. Manipular os resultados preliminares na véspera das eleições é “totalmente possível”, disse ele no mesmo evento.
Macron no alvo
A Alemanha está tentando reforçar suas defesas, com a criação de uma nova unidade de segurança cibernética das Forças Armadas que em breve terá 13.500 funcionários e especialistas em segurança cibernética trabalhando junto com o comissário federal eleitoral. Em maio, o principal órgão de segurança tecnológica do país, o BSI, conversou com pares como o órgão de segurança na internet da França para coletar informações sobre como frustrar ataques como aquele direcionado à campanha presidencial de Emmanuel Macron.
As autoridades alemãs estão confiantes de que podem proteger o processo de contagem de votos, que é feito principalmente à mão e por telefone, e alertou autoridades eleitorais regionais e locais sobre as possíveis ameaças envolvidas, disse Andreas Koenen, que dirige uma divisão de segurança de TI no Ministério do Interior da Alemanha.
No entanto, mesmo que as defesas da Alemanha estejam preparadas agora, pode ser tarde demais. Pewn Storm, um grupo de hackers supostamente vinculado à Rússia, pirateou em 2015 a rede de TI do Bundestag, o Parlamento alemão, e roubou cerca de 16 gigabytes de e-mails e outros dados. Ainda não houve vazamentos, mas a maioria dos legisladores espera ver esses 16 gigabytes novamente pouco antes das eleições. Resta saber o que isso vai significar.
Se os hackers obtiveram conteúdos explosivos, eles serão divulgados pouco antes da votação, disse Rieger, do Chaos Computer Club.
“Mas, na verdade, não acredito que eles tenham muita coisa”, disse ele. “As festas alemãs são chatas por natureza.”
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