Instabilidade macro e política pós-impeachment

Com os preços de mercado refletindo uma potencial troca de governo e melhores perspectivas de crescimento, a grande pergunta do mercado é: o que acontece após o impeachment da atual presidente Dilma Rousseff?

O evento foi realizado dias antes da votação do impeachment no Congresso. Marco Maciel, economista chefe do Brasil da Bloomberg Intelligence foi categórico ao começar o evento compartilhando sua análise: “A probabilidade de impeachment no Brasil é de mais de 70%, e, portanto, trabalhamos com o cenário onde há uma troca de governo”. Como ilustrado por ele, isso não resolve os problemas estruturais pelos quais passa o país, mas abre portas para que possamos começar a atacá-los. O economista indicou que a percepção do risco Brasil no mercado internacional nos últimos meses está intricadamente vinculada a expectativas de troca de governo, denotada pelo número de notícias mencionando o impeachment da atual presidente.
 
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survey impeachment

A lista de problemas é longa, mas o foco para resolver as grandes questões é bem definido: a situação fiscal necessita ser endereçada imediatamente. Maciel lembrou que 90% do orçamento federal é composto por despesas não discricionárias. Benefícios previdenciários são 37.5% do orçamento federal. Despesas com pessoal do governo central são 4% das despesas totais. É necessário atacar o orçamento, estruturalmente.

O desafio para o ministro da fazenda, independente de quem seja, será ter que evitar que os 2% de déficit primário se perpetue. O ministro terá que ter trânsito político para negociar esse pacto. O desafio e a lista de prioridades não mudarão muito, apesar da capacidade de execução variar: a agenda será impopular e capital político será necessário para emplacar a solução necessária. Não haverá outra saída senão aumentar a carga tributária no país no curto prazo. Ao mesmo tempo, é necessário aprovar medidas estruturais para diminuir os gastos no longo prazo. O Brasil possui uma das maiores cargas tributárias como proporção do PIB, mas a qualidade dos serviços no país não são compatíveis, como seria no caso de países com alta carga tributária como a Suécia e Noruega.

A trajetória da dívida pública é insustentável, e no curto prazo talvez seja inevitável subir impostos. Durante o evento, surgiu uma sugestão até então não muito divulgada: no caso de ressuscitação da CPMF, aprová-la de maneira “biodegradável” – onde ela possui um cronograma de desaceleração da alíquota, para que o sistema fiscal não dependa dela de maneira contínua. Uma agenda microeconômica também é fundamental: simplificar o compliance tributário no Brasil é necessário, lembrando que grandes empresas multinacionais têm proporcionalmente muito mais funcionários na parte tributária no Brasil do que qualquer outro país no mundo. Se não for alterada, a trajetória da dívida pública como proporção do PIB no Brasil poderá atingir patamares de 100%.
 

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A indexação é um subproblema da inflação alta: inflações de 8% a 10% de fato produzem uma inércia inflacionária. O próprio governo exacerba esse problema, com a indexação do salário mínimo. O ambiente de negócios no Brasil é ruim, argumento sustentando pela pesquisa do Banco Mundial, onde o Brasil figura no 116° lugar em 2016. Durante o evento, chegou-se a um consenso de que é necessário fazer reformas microeconômicas também. Para o economista da Bloomberg, baixar a inflação é primordial: ela multiplica o efeito negativo da economia pelo efeito da indexação, e destrói o PIB potencial do país. Houve também quem relembrou Milton Friedman: Indexação é um instrumento de primeira classe para países de segunda classe.

A discussão do evento que ocorreu na última quarta feira, 13 de Abril, toda direcionada ao prognóstico pós-impeachment, tomou uma dimensão mais prática uma vez que o prosseguimento do processo de impeachment foi de fato aprovado pela Câmara dos Deputados no domingo, dia 17 de Abril.

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