Intervenções fracassadas na AL mostram que mercado sempre vence

Por Sebastian Boyd e Christine Jenkins.

As autoridades de política cambial da América Latina estão descobrindo que não podem lutar contra o mercado.

A Colômbia viu o peso se valorizar na segunda-feira passada após anunciar uma série de medidas cambiais, fiscais e monetárias. No fim da semana, a moeda sucumbiu ao tombo dos ativos de mercados emergentes.

As vendas de dólares na Argentina na terça-feira não foram suficientes para impedir a queda do peso em todos os demais dias da semana passada e os investidores dizem que os esforços de intervenção no Brasil se tornaram praticamente ineficazes após mais de dois anos de vendas diárias de contratos de swap cambial. Apenas o peso mexicano parece ter recebido impulso real do aumento inesperado na taxa de juros, embora a valorização tenha perdido fôlego após quatro dias.

As autoridades monetárias da região estão intensificando as intervenções em um esforço para conter as desvalorizações cambiais que geraram aumento da inflação e ofuscaram os benefícios das taxas de câmbio mais fracas para os exportadores. Mas em vez de fortalecerem as moedas, os bancos centrais estão apenas queimando reservas e descobrindo que não conseguem combater a onda de perdas nos ativos de países emergentes, que abalou mercados tão diversos quanto Coreia do Sul, Turquia e Rússia.

“Não existe banco central no mundo capaz de transformar depreciação em valorização”, disse Christian Lawrence, estrategista de câmbio do Rabobank em Nova York. “Quando se quer desvalorizar, há uma série de possibilidades. Mas se há interesse em respaldar, é um jogo perdido. A intervenção cambial deveria ser usada como último recurso. Simplesmente não funciona”.

Queda do petróleo

As moedas da América Latina estão se desvalorizando à medida em que a queda de preços das commodities prejudica as receitas de exportação desses países e o temor em relação ao crescimento global leva os investidores a se desfazerem de ativos de economias com déficits em conta corrente. Neste ano, a região caminha para a maior inflação e o crescimento mais lento desde a crise financeira de 2008, segundo economistas consultados pela Bloomberg.

Há poucos sinais de recuperação na América Latina. Entre as 10 moedas globais com os maiores prêmios para opções de venda em três meses sobre contratos de compra, quatro estão na América Latina, segundo dados de preços de reversão de risco compilados pela Bloomberg.

“A intervenção direta não funciona. Quando funciona é a exceção, não a regra”, disse Mike Moran, chefe de pesquisa econômica para as Américas do Standard Chartered, que gera mais da metade da receita nos mercados emergentes. Contudo, “as autoridades de política cambial acreditam que há algum valor em desacelerar as quedas porque volatilidade gera volatilidade e é muito perturbadora para a economia doméstica”.

A experiência latino-americana ressalta as diferenças entre os mercados emergentes e boa parte do mundo desenvolvido, onde as autoridades monetárias de economias como Europa e Japão preferem moedas mais fracas para afastar a ameaça de deflação.

De todas as economias com metas de inflação na região, apenas o México tem mantido o avanço de preços dentro do intervalo desejado. No Brasil, os preços ao consumidor sobem a um ritmo mais de duas vezes acima da meta e a inflação colombiana atingiu o nível mais alto em sete anos no mês passado.

Lições da história

As economias latino-americanas têm um histórico inglório de interferência nos mercados cambiais. Nas décadas de 1980 e 1990, as autoridades monetárias da região usaram as taxas de câmbio para controlar a inflação. A menos que seja combinada com disciplina fiscal rigorosa, essa política pode levar a moedas supervalorizadas e a uma eventual desvalorização — como ocorreu na Argentina em dezembro.

A interferência excessiva nas taxas de câmbio pode manchar a já frágil credibilidade dos bancos centrais da região, disse o argentino Guillermo Calvo, professor de economia da Universidade Columbia, em Nova York.

“É preciso solidificar a credibilidade das moedas, especialmente quando vêm de inflação muito elevada, como era regra nas décadas de 1970 e 1980”, disse Calvo, que é coautor do influente estudo “Fear of Floating” (tradução livre: “Medo de flutuação”), de 2002. Em décadas passadas, os governos “eram mais explícitos em relação às intervenções”, disse ele. “Agora se vê mais flexibilidade, mas eu não chamaria a situação atual de flutuação real”.

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