Investidor diz que mercado está repetindo pânico pré-Lula com o Brasil

Por Julia Leite e James Crombie.

A despencada dos mercados brasileiros nos últimos meses não está incomodando Jerome Booth. Ele já viu isso antes e diz que, novamente, há um grande exagero.

Sim, o Brasil tem problemas sérios. O país está “uma bagunça”, diz ele, por causa da enorme investigação de corrupção na Petrobras, da piora da perspectiva fiscal, da recessão mais aguda em 25 anos e de um sistema político tão dividido que as reformas necessárias simplesmente não estão sendo feitas. Sem contar a redução da nota de crédito soberano para junk (grau especulativo) e a desvalorização do real para uma minima histórica.

Mas não há chance de o governo dar um calote, e os políticos vão acabar aprovando as medidas para reforçar o orçamento e restaurar o crescimento, disse Booth, em entrevista em Nova York. O pânico entre os investidores é excessivo, assim como há 13 anos, quando os preços dos bonds despencaram junto com a moeda em meio à preocupação de que Luiz Inácio Lula da Silva, que caminhava para ganhar a eleição presidencial, repudiasse a dívida do governo, disse Booth. Na época, ele era o chefe de pesquisa da Ashmore Investment Management, uma das maiores empresas dedicadas aos bonds soberanos de mercados emergentes.

“Você tem aquela situação clássica em que ‘tudo está tão ruim quanto poderia ser’”, disse Booth, chairman da New Sparta Asset Management, uma empresa de investimento que ele criou após deixar a Ashmore, em 2013. “Mas agora está tudo precificado”.

Os bonds do Brasil estão perto de chegar ao fundo do poço, segundo Booth, após terem feito que os investidores perdessem 8,3 por cento neste ano. Apenas a Zâmbia registrou retornos piores entre os mais de 60 mercados emergentes monitorados pelos índices JPMorgan Chase Co.

Após três cortes na nota soberana nos últimos três meses, sendo que um deles custou o grau de investimento do Brasil, o governo vai implantar um “programa econômico apropriado” e restaurar a confiança do investidor, disse ele.

“Acho que isso ocorrerá em meses, não em um ano”, previu.

O que faz com que Booth esteja confiante em um momento em que empresas como BlackRock Inc., Federated Investors Inc. e RBC Capital Markets veem motivos para evitar o Brasil?

Ele acredita que a maioria dos investidores está superestimando o risco, assim como em 2002. Naquela época, os ativos despencaram em meio ao temor que Lula, ex-líder sindicalista e fundador do Partido dos Trabalhadores, declarasse que a dívida do Brasil era ilegítima. Os observadores se preocupavam que o país retrocedesse apenas uma década depois de ter se livrado de um legado de hiperinflação e instabilidade política.

O real atingiu uma baixa recorde, os yields médios dos bonds do país subiram para mais de 25 por cento e o Ibovespa caiu 40 por cento antes da eleição.

“Os hedge funds, àquela altura, tinham essa visão de que existe uma coisa chamada profecia autorrealizável”, disse Booth. “Eles acreditavam em uma coisa: se todos os colegas em Nova York estivessem negativos”, então o Brasil “tombaria. Eu achava que aquilo simplesmente não fazia sentido”.

De fato, quando Lula ganhou, os investidores foram recompensados. Desde sua posse, no início de 2003, até ele deixar o cargo, no final de 2010, os bonds do Brasil denominados em dólares deram um retorno de 256 por cento, mais que o dobro da média dos mercados emergentes. As notas denominadas em reais avançaram 520 por cento em dólares, quase três vezes a média de seus pares. A moeda mais que dobrou de valor em relação ao dólar e as ações subiram 500 por cento.

Embora Booth tivesse dinheiro em jogo quando fez sua recomendação em 2002, desta vez ele não está investindo no Brasil. Depois de sair da Ashmore, em maio de 2013, ele estabeleceu a New Sparta, com sede em Londres, por meio da qual ele gerencia investimentos na empresa de telefonia britânica New Call Telecom e uma editora de revistas, entre outras empresas. A New Sparta financiou a comédia de Drew Barrymore “Já sinto saudades”, que estreou no Festival Internacional de Cinema de Toronto no mês passado.

Ainda assim, Booth diz que os investidores estão preocupados demais em relação aos países em desenvolvimento. Os ativos dos mercados emergentes caíram durante a maior parte do ano devido aos temores de que o Federal Reserve eleve a taxa de juros norte-americana e porque a economia chinesa mostra sinais de desaceleração.

“O ano de 1998 foi a última vez em que houve uma crise sistêmica que poderia ter levado a calotes sérios nos mercados emergentes”, disse Booth. “Nós não tivemos isso desde então, e é improvável que tenhamos novamente”.

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