Investidor eufórico compra tudo mesmo com dados mundiais ruins

Por Ye Xie, Natasha Doff e Dani Burger com a colaboração de Aleksandra Gjorgievska e Sofia Horta e Costa.

A penúria está fazendo algumas amizades esquisitas nos mercados internacionais.

Em um momento em que ativos arriscados como as ações, as commodities, os títulos junk e as moedas de mercados emergentes estão subindo para os patamares mais altos em vários meses, também os ativos de refúgio como o ouro, os títulos governamentais, o franco suíço e o iene japonês estão registrando altas.

Não importa que o mercado de trabalho dos EUA esteja se deteriorando, nem que o Banco Mundial tenha acabado de cortar suas projeções para o crescimento econômico mundial. Ou os investidores não acham que as notícias sejam ruins o suficiente para acabar com a recuperação mundial já estabelecida ou eles estão apostando que essa lentidão em algumas das maiores economias significa que os bancos centrais continuarão mais acomodatícios por mais tempo.

“Tudo está sendo impulsionado pela alta liquidez que os bancos centrais estão fornecendo”, disse Simon Quijano-Evans, estrategista-chefe para mercados emergentes do Commerzbank, o segundo maior banco da Alemanha, em uma entrevista em Londres. “É uma situação incomum que deriva da crise de 2008-2009. Os gestores de fundos têm capital para investir”.

Durante grande parte do tempo desde a crise financeira de oito anos atrás, os investidores mantiveram a mentalidade de que dados econômicos ruins são boas notícias para os mercados. As políticas de taxas de juros perto de zero adotadas pelos bancos centrais – e os custos de financiamento negativos no Japão e em alguns países europeus – levaram os traders a arrebatar qualquer coisa que gere rendimento. E qualquer sinal de que a fonte de liquidez vai continuar fluindo é acolhido com entusiasmo pelos mercados.

Mercado eufórico

A euforia mais recente começou na sexta-feira, quando o relatório sobre emprego nos EUA mostrou que foram adicionadas apenas 38.000 vagas em maio, o pior número desde 2010. Isso acabou com qualquer chance de que as autoridades do Federal Reserve aumentem os juros, que agora estão em 0,5 por cento, quando se reunirem na próxima semana, de acordo com dados compilados pela Bloomberg com base nas taxas futuras do Fed. A probabilidade de um aumento em julho caiu de 53 por cento há uma semana para 20 por cento.

A China, que é o país que mais contribui para o crescimento econômico mundial junto com os EUA, fez sua parte para estimular esse sentimento. A economia se estabilizou depois de uma nova dose de expansão do crédito no início deste ano. Na zona do euro, o Banco Central Europeu entrou em um território novo na tentativa de revigorar a enfraquecida economia com a compra de dívida de algumas das maiores empresas do continente pela primeira vez na história.

Não dá para culpar os investidores por essa sensação de alívio. Há muitos sinais de que a recuperação econômica dos EUA, iniciada há sete anos, está amadurecendo. O crescimento dos lucros se estabilizou. Os gastos corporativos caíram e o comércio mundial continua estagnado. Na terça-feira, o Banco Mundial reduziu sua perspectiva para o crescimento global neste ano para 2,4 por cento, abaixo dos 2,9 por cento estimados em janeiro.

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