Por Natasha Doff.
Na década de 1990, quando os mercados russos estavam se abrindo para alguns poucos corajosos investidores estrangeiros, o fundador da East Capital, Peter Elam Hakansson, tinha uma maneira infalível de saber se deveria investir ou não em uma empresa. Ele visitava as companhias no inverno para verificar se elas podiam arcar com o custo da calefação.
Nos primeiros anos do capitalismo de mercado na Rússia era quase impossível encontrar informações confiáveis sobre empresas a partir de balanços financeiros, por isso aqueles investidores preparados para visitar cidades siberianas em situação precária, sob temperaturas abaixo de zero, tinham uma vantagem imediata. A prova está no retorno de 2.098 por cento que a East Capital, com sede em Estocolmo, conseguiu na primeira década do milênio com seu primeiro fundo de ações focado na Rússia, cerca de um terço a mais do que a média de fundos concorrentes monitorados pela Morningstar.
A história pode parecer redundante em uma era onde informações podem ser obtidas com o clique de um mouse e gestores que se aperfeiçoam cada vez mais com fundos que acompanham passivamente os índices. Mas, para Hakansson, investidores com dificuldade em demonstrar seu valor, diante da crescente competição com fundos de índices (ETFs), fariam bem em tomar nota das lições que ele aprendeu investindo na Rússia no fim do último século.
“Ser um proprietário ativo consome tempo e recursos, e isso será um dos melhores fatores diferenciadores para gestores de fundos bem-sucedidos”, disse Hakansson durante uma entrevista recente em Moscou. “Sempre queremos ver como as empresas são administradas. A coisa mais importante é também conhecer o dono. Sempre tentamos saber quem está por trás da companhia.”
A estratégia ajudou o fundo da East Capital, com ativos de 3,6 bilhões de coroas suecas (US$ 427 milhões), a conseguir uma vantagem de 11 pontos percentuais em relação ao índice de referência no último ano, eliminando a exposição às empresas russas de energia. Esse segmento, que tem sentido o impacto da queda dos preços do petróleo, responde por quase metade do principal índice acionário russo.
A indústria de fundos mútuos, com ativos de US$ 16 trilhões, enfrenta uma de suas maiores transformações em mais de 90 anos de história diante da estratégia de investidores de deslocar seus recursos para carteiras de gestão passiva que, normalmente, oferecem melhores retornos por uma fração do preço. A transferência de recursos de fundos mútuos de gestão ativa para fundos passivos é estimada em US$ 500 bilhões no primeiro semestre de 2017, quase o dobro do que em qualquer outro começo de ano, segundo dados do Bloomberg Intelligence.
Hakansson faz coro com uma série de analistas que defendem o papel de gestores que “colocam a mão na massa”. Investidores como Bill McNabb, presidente da Vanguard, que administra os maiores ETFs do mundo, diz que gestores ativos de recursos podem ter um bom desempenho se baixarem as comissões e demonstrarem uma clara estratégia de investimento.
O argumento a favor de fundos “mais ativos” é ainda mais forte em mercados emergentes, onde os índices são menos líquidos e gestores de recursos têm mais flexibilidade do que os fundos passivos para rapidamente deslocar exposições entre setores e países, segundo um relatório da Van Eck Associates.
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