Investidores apostam em alta de grãos por ameaça climática

Por Megan Durisin.

Este pode ser apenas o começo da recuperação dos preços que tomou os mercados de grãos.

O clima adverso nas regiões produtoras, dos EUA ao Mar Negro, pode gerar o primeiro declínio dos estoques globais de trigo em seis temporadas, segundo estimativas de analistas feitas antes da divulgação do relatório do governo dos EUA, prevista para 10 de maio. O estoque mundial de milho deverá atingir o menor patamar em cinco anos.

Após um período de estagnação, os contratos futuros de grãos se recuperaram recentemente das menores cotações em anos, devido aos sinais de que a oferta está finalmente começando a se restringir. No momento em que os agricultores do hemisfério norte preparam a terra, os fundos de hedge sinalizam mais aumentos de preço à frente. Um indicador combinado do posicionamento de investidores nas três grandes culturas dos EUA — milho, soja e trigo — registrou a maior alta sazonal em quatro anos.

“Há uma oportunidade real de ganho adicional a curto prazo”, disse Matt Osborne, diretor de investimentos da Altegris em La Jolla, Califórnia, que administra cerca de US$ 2,5 bilhões. “Se os grãos continuarem subindo com base nos fundamentos, poderemos ver a virada de algumas posições a descoberto.”

Os contratos futuros do milho e do trigo estão sendo negociados perto dos maiores patamares em nove meses em Chicago, e a soja para entrega em julho subiu cerca de 5 por cento em 2018. É uma bela reviravolta após cinco anos consecutivos de queda no Bloomberg Grains Subindex, sequência mais longa de perdas desde que os dados começaram a ser compilados, em 1992.

A posição comprada líquida combinada das três culturas deu um salto de 40 por cento, para 334.662 futuros e opções em 1º de maio, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC, na sigla em inglês), divulgados na sexta-feira. O milho deu o maior impulso e o aumento dos ativos por gestores de recursos foi o maior em oito semanas.

A oferta está diminuindo em parte porque a prolongada queda dos preços causou a redução das plantações. Mas o maior fator é o climático. Os campos argentinos têm sofrido com a pior seca em décadas, enquanto as Grandes Planícies dos EUA foram atingidas por um inverno seco seguido de uma primavera excepcionalmente fria.

Devido às condições adversas, os traders aguardam ansiosamente as primeiras estimativas do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) para o ano-safra 2018-2019. A agência anunciará sua projeção no relatório de estimativas mundiais de oferta e demanda agrícola, que deve ser divulgado em 10 de maio, ao meio-dia, em Washington.

Na média, os analistas consultados pela Bloomberg News estimam que os estoques de milho, soja e trigo dos EUA cairão em relação ao ano passado. Seria o primeiro declínio simultâneo desde 2013. Os estoques de milho deverão cair impressionantes 25 por cento, maior recuo em oito anos.

Existe também a chance de o panorama de oferta ficar ainda mais restrito com o surgimento de diversas ameaças climáticas. No Brasil, alguns milharais carecem de umidade, e a colheita de soja da Argentina tem sido interrompida por chuvas torrenciais após uma seca durante o período de produção. Nos EUA, qualquer calor ou estiagem incomum neste verão poderá prejudicar a produtividade das lavouras.

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