Por Tatiana Freitas e Gerson Freitas Jr.
Apreensão com acusações de informações privilegiadas, possíveis batalhas judiciais nos EUA e incertezas sobre um acordo de leniência com procuradores ajudaram a alimentar outra debandada da JBS, fazendo com que a empresa brasileira no centro do mais recente escândalo político do país perdesse R$ 7,45 bi em valor de mercado apenas nesta segunda-feira.
As ações da maior empresa de carnes do mundo despencaram 31%, um tombo histórico. Isso após declínio de 21% na semana passada, quando os investidores venderam as ações da cia. brasileira depois que surgiram os primeiros relatos mostrando o presidente da JBS admitindo o pagamento de propinas e a outros políticos em conversa com o presidente Michel Temer. Os títulos da empresa também caíram após a Moody’s rebaixar a classificação de crédito da empresa.
O colapso das ações e especulação de que JBS pode ser alvo de processos coletivos nos EUA como resultado das revelações parecem ter acabado de vez com os planos para o IPO de sua unidade JBS Foods em Nova York, de acordo com Luis Gustavo Pereira, analista da corretora Guide Investimentos. Também pesaram nas ações a incerteza em torno da controladora J&F Investimentos, que ainda está em negociações com promotores para um acordo de leniência.
“É difícil encontrar um piso para as ações da JBS no momento”, disse Pereira por telefone.
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Em depoimentos filmados pela Justiça e divulgados em 19 de maio,Joesley Batista e o irmão Wesley descrevem um amplo esquema de pagamentos ilícitos durante vários anos. Os depoimentos surgem 3 anos depois que o país foi sacudido pela primeira vez pela Lava Jato.
Temer, que negou qualquer irregularidade, está resistindo à pressão para renunciar. Ele reforçou sua defesa em um discurso exibido na TV nacionalmente no fim de semana, dizendo que a JBS fez “milhões e milhões de dólares” em menos de 24 horas com os negócios com câmbio porque estava ciente de que o testemunho dos irmãos levaria o real a se depreciar. Entretanto, as condições dadas a Joesley, presidente do conselho da JBS, como parte do acordo de delação com promotores serão questionadas na Suprema Corte, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.
Cinco Investigações
A CVM iniciou 5 inquéritos separados sobre negócios relacionados à JBS e ao Banco Original, que também é de propriedade da J&F. A CVM informou aos promotores sobre possível uso de informações privilegiadas na negociação de futuros e ações em dólar.
A JBS não quis comentar as transações com ações. Cia. disse que suas recentes operações de moeda foram destinadas a reduzir o risco e estão em conformidade com a política da empresa.
Os promotores e a empresa não chegaram a um acordo sobre o montante que a J&F deve pagar em multas no acordo de leniência. As negociações foram retomadas nesta segunda-feira, de acordo com uma nota no site da promotoria brasileira, que busca pagamento de R$ 11,2 bi dez anos. Numa primeira proposta, a JBS ofereceu pagar R$ 1 bilhão e, depois, R$ 1,4 bilhão. A empresa disse que também iniciou negociações de leniência com o Departamento de Justiça dos EUA.
A Moody’s rebaixou a JBS e sua subsidiária integral JBS USA nesta segunda-feira, citando “aumento dos riscos relacionados a possíveis processos judiciais futuros, governança da empresa e liquidez, nos quais atualmente há visibilidade limitada”.
Os US$ 750 milhões de títulos da empresa com vencimento em 2024 perderam 6,8% para 92,775 centavos de dólar. As ações fecharam a R$ 5,98 reais, o menor nível desde 2013 e a maior queda de um dia desde que começaram a operar em 2007. Volume de negociação foi sete vezes maior que a média diária de três meses.
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