Investidores locais impulsionam Bolsa apostando contra Dilma

Por Denyse Godoy, com a colaboração de Stephen Kirkland e Jeff Sutherland.

Grandes investidores internacionais, como Will Landers e Mark Mobius, podem até ter impulsionado a alta das ações do Brasil, que foi recorde no mundo, mas agora é a comunidade de investidores locais que está assumindo a liderança.

Após ficarem à margem enquanto o esforço do Congresso para derrubar a presidente Dilma Rousseff gerava uma onda de compras por estrangeiros, os investidores locais, incluindo os menores, estão correndo para o mercado e agora respondem por quase um quinto de todas as negociações, maior proporção desde 2012, mostram dados da Bolsa de Valores de São Paulo. Não é coincidência que a mudança de postura ocorra nos últimos dias do governo Dilma, depois que o Senado decidiu em votação, na quinta-feira, suspender o mandato da presidente para submetê-la ao julgamento do impeachment.
 

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Basta perguntar a Giancarlo Tognato. O microempreendedor de 51 anos foi obrigado a fechar sua oficina mecânica em um bairro nobre de São Paulo, no fim do ano passado, quando a economia mergulhou mais fundo em sua pior recessão em um século. Na esperança de recuperar parte de seus prejuízos, Tognato agora está intensificando os investimentos em ações que dependem da economia local, essencialmente apostando contra a pessoa que ele culpa por seu infortúnio: Dilma.

“Quem sente cada pequena mudança no clima está começando a ficar mais otimista com as perspectivas para a economia com um novo governo”, disse Beatriz Fortunato, gestora de recursos da Studio Investimentos no Rio de Janeiro, que tem R$ 400 milhões (US$ 115 milhões) em ativos administrados. “A tendência é que o fluxo para as ações aumente”.

Investidores locais como Tognato injetaram um total de R$ 1,1 bilhão em ações neste mês até 9 de maio, enquanto os estrangeiros retiraram R$ 1,4 bilhão, segundo os dados mais recentes da BM&FBovespa. Embora os investidores locais corram o risco de estar entrando na festa tarde demais — um crescente coro de gestores de ativos diz que os novos ganhos serão limitados até o Brasil virar realmente o jogo –, isso sinaliza uma clara mudança de atitude: os brasileiros estão mais otimistas com as perspectivas de longo prazo.

“Eu sei que o país não vai melhorar da noite para o dia, mas não tem mais para onde ir a não ser para frente”, disse Tognato.

Mobius disse neste mês que ainda está comprando e Dan Raghoonundon, analista de pesquisa de ações da América Latina da Janus Capital, afirmou que considera o Ibovespa barato até a casa dos 65.000 pontos, volume 23 por cento mais elevado que o do fechamento do pregão de quarta-feira.

Mas para o JPMorgan, a Verde Asset Management e a Quantitas Asset Management, as altas futuras dependerão do sucesso de Michel Temer, que assumirá a presidência no lugar de Dilma, na implementação das reformas tão necessárias.

“Não será fácil, mas eu realmente espero que o novo governo seja capaz de consertar tudo o que este governo fez de errado”, disse Tognato, que comprou ações de empresas varejistas, como a rede de supermercados Cia. Brasileira de Distribuição, e da processadora de cartões de crédito Cielo. “São investimentos de longo prazo”.

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