Investidores não aprenderam nada com Trump e Brexit?

Por Marcus Ashworth.

Brexit e Donald Trump já deixaram isso bem claro: o risco político voltou com tudo.

A não ser na França. Os investidores aparentemente estão ignorando solenemente o risco de a líder de extrema direita Marine Le Pen sair vitoriosa na eleição presidencial do ano que vem. Após atingir na semana passada o maior nível desde junho de 2015, a diferença entre os rendimentos dos títulos públicos franceses e dos títulos alemães de prazo comparável se estreitou. Talvez o alívio dure pouco.

A vitória de Marine é improvável. Ela talvez alcance o maior número de votos no primeiro turno da eleição, em abril, mas as pesquisas de opinião indicam que perderia no segundo turno, no mês seguinte. Os responsáveis pelas pesquisas de opinião garantem à Bloomberg News que estão confiantes. Porém, a decisão dos eleitores britânicos pela saída da União Europeia e a conquista da Casa Branca por Trump eram consideradas improváveis. Seja qual for o desfecho, os desdobramentos da campanha dela nas próximas semanas têm potencial para afetar mais do que os mercados financeiros.

Os rendimentos dos títulos públicos franceses dispararam recentemente, mas o movimento foi largamente influenciado pela queda de preços dos ativos nos mercados de renda fixa em geral.

Na comparação com os rendimentos dos títulos públicos da Itália — onde o primeiro-ministro Matteo Renzi provavelmente sairá derrotado em um referendo sobre reforma constitucional, em 4 de dezembro —, as taxas francesas ficaram praticamente inalteradas. Renzi já disse que pedirá demissão se perder. Se isso acontecer, os investidores devem se preparar para uma onda de instabilidade. Além disso, a França ainda é considerada um mercado central e a maioria do risco soberano na região fica nos países considerados periféricos.

Dois fatores podem alterar a percepção de risco dos investidores. O primeiro é a escolha do candidato do partido Les Républicains neste fim de semana. As pesquisas mostram que o ex-primeiro-ministro Alain Juppé derrotaria Marine Le Pen com vantagem bem maior do que o ex-presidente Nicolas Sarkozy. O segundo fator é que Marine Le Pen provavelmente chegaria ao segundo turno. Os investidores podem se apavorar quando só restarem dois cavalos no páreo – ainda que o pai dela tenha perdido para Jacques Chirac por uma diferença enorme em 2002.

Acontece nesta quinta-feira o último leilão do ano de títulos públicos franceses de médio prazo e de títulos atrelados a índices. Então haverá um leilão misto final em dezembro, quando as instituições que negociam diretamente com o governo farão lances pelos papéis que desejam. A partir daí, não haverá mais emissões neste ano.

Os compradores domésticos podem ser atraídos pelo rendimento maior e talvez ignorem a ameaça política por ora. Talvez também folguem em saber que o Banco Central Europeu comprará alguma sobra. Mas também terão de enfrentar a perspectiva de a autoridade monetária começar a retirar gradualmente os estímulos no ano que vem. Isso pode deixar os investidores de renda fixa em maus lençóis.

De todo modo, eles precisam estar preparados para oscilações nos títulos públicos franceses à medida que a eleição se aproxima. A esta altura, ser complacente é ser imprudente.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do conselho editorial da Bloomberg LP e seus proprietários.

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