Por Stephanie Baker.
Jamie Oliver não tem papas na língua: o Reino Unido, assim como os EUA, está gordo demais.
Tão gordo que ele vem travando publicamente uma guerra contra o açúcar — e enfurecendo o setor açucareiro. Tudo começou em junho de 2015, quando o chef celebridade visitou o número 10 da Downing Street para se reunir com David Cameron, então primeiro-ministro do Reino Unido, e propôs um imposto sobre as bebidas que contêm açúcar, como Coca-Cola e Pepsi.
“Foi como se eu tivesse soprado cocô de cachorro na frente de todo mundo”, relembra Oliver. “Ele disse: ‘Bem, nós não gostamos muito de um imposto’.”
Aparentemente contra as probabilidades, Oliver conseguiu o que queria, fazendo da quinta maior economia do mundo o mais recente país rico a combater a obesidade e os problemas de saúde associados a ela. Em março, o então ministro das Finanças George Osborne surpreendeu os defensores da saúde ao anunciar que formularia uma lei para aplicar um imposto que captaria 520 milhões de libras (US$ 659 milhões) por ano.
A decisão do Reino Unido, em referendo, de abandonar a União Europeia custou o cargo a Cameron e a Osborne, mas a nova primeira-ministra Theresa May decidiu dar continuidade ao imposto em agosto, quando seu governo destacou Oliver como um defensor fundamental da medida. Na segunda-feira, o governo publicou o projeto da lei, que o Parlamento deverá votar no próximo ano.
Com milhões de seguidores no Twitter e no Facebook e um bombardeio midiático que incluiu um documentário de TV e uma declaração ante o Parlamento, Oliver argumentou que o vício de açúcar do Reino Unido se descontrolou e que empresas como Coca-Cola e PepsiCo deveriam ser castigadas como crianças malcomportadas. Como resultado, todo mundo, do chef rival Heston Blumenthal aos tabloides britânicos, passou a chamar o tributo proposto de “imposto de Jamie Oliver sobre o açúcar”.
O imposto do Reino Unido — que deve acrescentar cerca de 8 pence a uma lata de Coca-Cola de 70 pence — entrará em vigência em 2018 caso consiga o apoio do Parlamento. O setor, liderado pela British Soft Drinks Association, está fazendo pressão contra a lei, afirmando que ela custaria empregos e prejudicaria os pobres, que gastam uma parcela desproporcional da renda em alimentos e bebidas.
“Trata-se de um imposto sobre um setor, mas ele provocará aumentos de preço para os consumidores”, disse Gavin Partington, diretor-geral da associação. “No processo, levará à eliminação de empregos no setor e os mais pobres da sociedade pagarão preços mais altos.”
Oliver discorda. Para demonstrar a Cameron que o imposto funcionaria, ele implementou uma taxa adicional de 10 pence às bebidas que contêm açúcar em mais de 45 de seus restaurantes italianos no Reino Unido a partir de meados de 2015 e convenceu outros restaurantes a fazer o mesmo. Essa taxa arrecadou no total 170.000 libras, que Oliver doou para que a instituição de caridade Sustain realize programas relativos à saúde infantil.
“Eu não me oponho aos negócios”, disse o chef de 41 anos, na sala de reunião que fica acima de seu restaurante Fifteen, em Londres. “Fazer a coisa certa é um bom negócio.”
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