Janela do BCE para mensagem de estímulo começa a se fechar

Por Jeanna Smialek.

Nos próximos três dias, a cúpula do Banco Central Europeu caminhará sobre uma corda bamba em termos de comunicação.

Com os últimos dados de inflação mostrando que as quedas de preços voltaram, está se fechando a janela de oportunidade para que o BCE sinalize qualquer intenção de estímulo para a decisão de 10 de março antes do início de um período de silêncio autoimposto, na quinta-feira. O integrante do Conselho Executivo Benoit Coeuré, arquiteto da flexibilização quantitativa na zona do euro, discursará em Frankfurt e em Bruxelas na quarta-feira. Sua colega Sabine Lautenschlaeger e os presidentes dos bancos centrais nacionais também podem dar indícios a respeito.

Há muito em jogo: os bonds caíram e o euro registrou a maior valorização desde 2009 quando o ajuste na política, em dezembro, ficou abaixo das expectativas dos investidores. Para evitar uma reprise disso, as autoridades precisam reforçar o mantra de que têm as ferramentas para impulsionar os preços ao consumidor e a disposição de usá-las, mas sem preparar os mercados para uma ação que não vão tomar.

“Os membros do Conselho Governativo estarão mais atentos do que nunca em relação a como seus comentários serão interpretados antes daquela que poderá ser a reunião mais importante deste ano”, disse Timo Del Carpio, economista para a Europa do RBC Europe em Londres. Ao mesmo tempo, o BCE está “trabalhando duro para convencer as pessoas de que não está com as mãos atadas”.

Pouco progresso

A luta do BCE contra uma inflação insistentemente baixa usando taxas de juros negativas e um plano de compra de bonds de 1,5 trilhão de euros (US$ 1,6 trilhão) teve pouco progresso visível. O aumento dos preços ao consumidor na zona do euro está abaixo da meta de pouco menos de 2 por cento desde o início de 2013.

A taxa de inflação caiu para -0,2 por cento no período de 12 meses até fevereiro, contra uma leitura positiva de 0,3 por cento no mês anterior, segundo dados publicados na segunda-feira. O núcleo de inflação, que desconsidera itens voláteis como alimentos e energia, se desacelerou de 1 por cento para 0,7 por cento.

O BCE está “na zona laranja, ou na zona vermelha”, no que diz respeito ao seu papel perante a inflação, disse Jean-François Perrin, estrategista de inflação do Crédit Agricole CIB em Paris. “Terá que se esforçar mais”.

‘Fé cega’

O que “mais” fará é algo que não terá o consenso formal do Conselho Governativo até a manhã de 10 de março, pouco antes de a instituição anunciar sua decisão para as taxas de juros e de uma entrevista coletiva do presidente do BCE, Mario Draghi. Isso coloca o holofote sobre as aparições públicas desta semana.

Lautenschlaeger discursará em uma conferência sobre gestão de risco em Nova York. Coeuré, que é responsável pelas operações de mercado do BCE, estará em uma conferência em Frankfurt antes de viajar a Bruxelas para uma audiência no Parlamento Europeu sobre a capacidade orçamentária da zona do euro.

“O BCE realmente não preparou os mercados até o momento. Eles têm dito que precisam reconsiderar a postura monetária, mas não deram muitos detalhes sobre o que isso implica”, disse Marchel Alexandrovich, economista sênior para a Europa do Jefferies International em Londres. “Os mercados esperam que algo aconteça, sem terem ideia clara do que poderia ser. É uma espécie de fé cega de que o BCE fará alguma coisa”.

Os traders tinham muita fé em 3 de dezembro, o que levou a uma queda acentuada quando Draghi anunciou uma “recalibragem” dos estímulos, estendendo a duração da flexibilização quantitativa, mas sem aumentar as compras mensais além dos atuais 60 bilhões de euros.

“O risco é que se repita um evento como o de dezembro”, disse Fabio Balboni, economista do HSBC Holdings em Londres. “Há uma série de coisas que o BCE pode fazer. Para mim, o principal é encaixar isso na expectativa do mercado”.

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