Janet Yellen precisa dar algumas explicações

Por Narayana Kocherlakota.

Os mercados já não têm uma estrutura para entender o que o Federal Reserve dos EUA planeja fazer com as taxas de juros — e é improvável que uma reunião sobre política econômica nesta semana esclareça muito. Esta é uma lacuna que a presidente do Fed, Janet Yellen, terá que preencher quando fizer seu próximo discurso no fim de agosto.

É quase certo que quando o Comitê Federal de Mercado Aberto, órgão responsável por decidir políticas, se reunir na terça-feira e na quarta-feira, ele decidirá manter inalterada a meta para a taxa de juros no curto prazo — e o comunicado estereotipado que virá com essa decisão não fará muito para dissipar a crescente incerteza em relação aos próximos passos do banco central. Portanto, a próxima oportunidade para esclarecer virá no dia 26 de agosto, quando Yellen fará um discurso na conferência econômica do Fed de Kansas City em Jackson Hole, Wyoming — local onde seu antecessor costumava revelar os planos do banco central para três a seis meses seguintes.

Em dezembro de 2015, quando o Fed aumentou as taxas pela primeira vez em sete anos, ele parecia contar com uma estrutura: apesar de ter dito que o ritmo exato dos seguintes aumentos dependeria dos dados econômicos que chegassem, a instituição indicou claramente que pretendia elevar as taxas em um quarto de ponto percentual a cada de três meses, aproximadamente, durante os três anos seguintes. Agora, essa orientação parece obsoleta: até quarta-feira, o Fed não terá aumentado as taxas nem sequer uma vez desde dezembro.

Então, qual a estrutura agora? Minha interpretação é que as autoridades do Fed estão preocupadas com diversos riscos de queda na economia, especialmente do exterior — entre eles, nada menos do que a fraqueza do sistema bancário da Europa e as possíveis repercussões da decisão do Reino Unido de sair da União Europeia. As autoridades também reconhecem que o banco central tem um poder de fogo limitado para compensar os choques que surgirem. Portanto, estão mantendo as taxas baixas agora para garantir que a economia terá a melhor saúde possível caso os riscos se materializem (eu argumentei que o Fed deveria dar um passo além e de fato reduzir as taxas).

É verdade que a economia também poderia se sair melhor do que o esperado. Isso seria muito mais fácil de administrar do que um cenário negativo, porque o Fed poderia simplesmente aumentar as taxas para manter a inflação controlada — um exemplo da assimetria política que surge quando as taxas de juros estão perto de zero.

Minha previsão é que o Fed continuará relutando em aumentar as taxas enquanto as pressões inflacionárias não estiverem muito mais fortes e, quando isso acontecer, se sentirá impelido a avançar a um ritmo mais rápido que quatro vezes por ano. É uma projeção similar à sugestão do presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, de que o banco central deveria esperar até que a inflação básica atinja 2 por cento para elevar as taxas. Se os preços começarem a subir nesse ritmo, o Fed estará certo em dar muito mais peso às preocupações inflacionárias do que aos riscos de queda.

Dito isso, eu não tenho nenhuma informação privilegiada sobre o que as autoridades do Fed estão pensando. Elas terão que fazer um exame de consciência coletivo nos próximos dois dias e identificar um ou dois fatores que foram mais fundamentais na formação de suas decisões no ano até agora. Depois, Yellen pode usar seu discurso em Jackson Hole para explicar quais são esses fatores e como eles orientarão a política nos próximos seis meses. Seria muito mais útil do que fornecer mais uma projeção para a trajetória das taxas de juros — uma que quase certamente estará errada.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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