Jantar com Madonna vira passado e Rio luta contra o crime

Por R.T. Watson.

Em Santa Teresa, bairro boêmio do Rio de Janeiro, o Aprazível, um restaurante chique emoldurado pela floresta tropical, está quase vazio em uma noite de sábado, que deveria ser movimentada.

Celebridades como Madonna e Tom Cruise apreciaram as vistas deslumbrantes e os pratos tropicais do famoso restaurante do Rio. Mas, hoje em dia, até mesmo os moradores locais relutam em se arriscar dirigindo depois do anoitecer até o topo do morro, porque a área ao redor registra uma onda de crimes violentos, disse Pedro Hermeto, um dos sócios.

“Os motoristas tentam convencer as pessoas a não ir, dizendo que é muito perigoso, que é uma zona de risco e há muitos assassinatos”, disse Hermeto.

Antes de ser sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas, o Rio investiu fortemente para aumentar o policiamento e aplicar a lei em seus vergonhosos lugares mais pobres — inclusive naqueles que circundam as encostas de Santa Teresa. Por um tempo, as iniciativas deram frutos.

Mas os avanços duramente conquistados estão se desmantelando enquanto o Brasil sucumbe a um dos ciclos de altos e baixos que atravessa desde o período colonial. A situação do Rio é mais dramática porque seu setor petroleiro, principal fonte de receita e emprego, implodiu por causa da queda de preço do petróleo e de um escândalo de corrupção. O desemprego na cidade mais que dobrou, para 15,3 por cento, desde que o Brasil afundou na recessão. As forças de segurança locais sofreram desgastes e atrasos no pagamento dos salários.

Recuperação difícil

O Rio precisa desesperadamente de um pilar para se recuperar, mas está ficando sem opções, pois o aumento da criminalidade assusta os turistas e eleva o custo dos negócios para todos, dos supermercados às empresas de energia, como a Light, que sofre com o crescente roubo de energia.

“Algumas empresas agora estão avaliando muito cuidadosamente se devem ou não continuar fazendo negócios na cidade, já que o grau de incerteza é enorme”, disse Marcelo Haddad, presidente da agência de promoção de investimentos Rio Negócios, em entrevista por telefone. “Houve uma redução significativa na capacidade de atuação da polícia do Rio de Janeiro.”

Os desafios enfrentados pelo Aprazível, que sofreu uma queda de 40 por cento na receita e teve que demitir 35 funcionários no último ano, são comuns. A violência custou ao Rio cerca de US$ 100 milhões em receita perdida nos primeiros quatro meses do ano, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Líderes do turismo local enviaram uma carta aberta ao presidente Michel Temer em maio pedindo ajuda com a segurança.

As principais vias da cidade se tornaram mais perigosas para consumidores e empresas, com mais de 28 roubos de carga registrados por dia no estado, de acordo com o jornal O Globo. Isso está aumentando em até 35 por cento o preço que os consumidores pagam por remédios e eletrônicos, afirmou a Firjan, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro. Os supermercados também projetam que os preços de alguns produtos chegarão a aumentar 20 por cento no varejo por causa dos custos de transporte relativos à criminalidade, de acordo com a associação de supermercados Asserj.

Para Hermeto, do Aprazível, que lidera uma associação composta por empresas de Santa Teresa, é necessário tomar medidas por conta própria para sobreviver. A associação que ele dirige vai comprar e instalar 40 câmeras de segurança na área e contratar alguém para monitorá-las. A esperança é conter a atividade criminosa e ajudar a recuperar a reputação do bairro antes que seja tarde demais.

“Sabemos que o Estado não tem dinheiro para investir”, disse Hermeto.

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