Javier Domenech do Scotiabank: Entre a música e os números

“Às vezes é frustrante porque parece que as oportunidades não vão se materializar, mas se você tiver um objetivo claro e for persistente, vai alcançar o que quer.”

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Javier Domenech

Treasury Director | Scotiabank, Mexico

Um dos maiores clássicos do rock progressivo é a música “Money”, do Pink Floyd, e talvez não seja mera coincidência que essa banda britânica seja a favorita do diretor de tesouraria do Scotiabank México, Javier Domenech, um aficionado da música… e das finanças.

“A música tem muito a ver com a matemática – há um ponto em que se encontram. Mas, para mim, a música é uma oportunidade de relaxar, aproveitar o momento e parar para pensar”, explica Domenech, que também é guitarrista da banda “Overdrive”.

Fã de Roger Waters e David Gilmour, ambos ex-integrantes do Pink Floyd, Javier diz que para trabalhar em um ambiente tão estressante quanto o mercado financeiro, é necessário descansar e manter a mente tranquila.

“No mercado financeiro, se você estiver muito pressionado, não consegue trabalhar direito e pode tomar decisões equivocadas, se estressa mais – é um círculo vicioso. Por outro lado, se estiver mais tranquilo, será mais produtivo e tomará melhores decisões porque terá muito mais clareza sobre as coisas”, assegura.

Javier concedeu esta entrevista cercado por guitarras elétricas e acústicas e conta que começou a tocar aos 17 anos. De lá pra cá, fez aulas em diferentes momentos da vida para aperfeiçoar sua técnica.

Da mesma forma, Javier afirma que para se dedicar às finanças, é necessário estudar e buscar oportunidades continuamente.

“Às vezes é frustrante porque parece que as oportunidades não vão se materializar, mas se você tiver um objetivo claro e for persistente, vai alcançar o que quer”.

“Há um ditado do qual gosto muito, e diz: ‘Sorte é o encontro da preparação com a oportunidade’”.

Jamais pare de aprender

Uma experiência pessoal ilustra bem esse último ponto. No final do curso de engenharia industrial, Javier ingressou em um programa oferecido pelo banco Banamex e ganhou uma bolsa para fazer um MBA nos Estados Unidos. “[A oportunidade] me atraiu porque jamais poderia pagar por um MBA naquele momento”, revela.

Foi justamente enquanto fazia o curso na Universidade de Michigan que começou a se interessar por tudo que se relacionava aos mercados. Mas, aquele não era o melhor momento para buscar uma oportunidade nesta área.

“Retornei ao México no pior momento. Terminei a pós-graduação em 1995 – exatamente durante a eclosão da ‘crise da tequila’ (episódio também conhecido no país como ‘o erro de dezembro’)”, relata.

“Antes de terminar o MBA, passei alguns dias no México. Pouco antes de embarcar, comprei o Wall Street Journal e li que o peso mexicano havia se desvalorizado de tal forma que, quando voltei para Michigan, tudo parecia caríssimo porque o câmbio passou de 3 para 7 pesos por dólar”, lembra.

De volta ao México depois de concluir o MBA, Javier trabalhou em uma das áreas que mais crescia naquele momento devido à grave situação em que se encontrava a economia mexicana, em decorrência da crise: recuperação de crédito.

Embora pareça que grande parte de tudo que fez e aprendeu naquela época não tinha relação com o que faz hoje em dia, a verdade é que toda aquela experiência tem sido útil, especialmente à medida que foi conquistando posições mais altas e com mais responsabilidades.

“Por exemplo, quando trabalhei em corporate banking, tinha que analisar os balanços patrimoniais dos bancos, o que depois provou ser muito importante para entender os resultados e a contabilidade do banco em que trabalho”, exemplifica. “Hoje, me surpreendo ao ver que muitas coisas que eu considerava perda de tempo, na verdade, são importantíssimas”.

Javier aproveitou bem não apenas as oportunidades da vida profissional, mas também as que teve em relação à sua paixão pela música: “Há alguns anos, fiz o login no terminal da Bloomberg e no noticiário dizia que David Gilmour faria uma apresentação única no Radio City Music Hall, em Nova York. O dia em que a notícia foi publicada era meu aniversário e o show, alguns meses depois, seria justamente no dia do meu aniversário de casamento. Então, disse a mim mesmo, ‘É coincidência demais!’. Comprei os ingressos e fomos ao show”, recorda.

Aprenda com os melhores

Assim como se empenha em melhorar sua técnica na guitarra ou acompanha seus músicos favoritos, Javier também tem alguns “gurus” no mercado financeiro.

“Em especial, admiro pessoas que saíram da área acadêmica para a de negócios, como Hal Varian (economista americano especializado em microeconomia e economia da informação), que não é exatamente do meu setor, mas foi meu professor em Michigan e agora é o economista-chefe do Google. É um profissional que continua a gerar muito valor aplicando brainpower no mercado”, resume.

Quanto aos livros, recomenda The Man Who Solved the Market, de Gregory Zuckerman, que narra a história do nascimento e evolução da “Renaissance Technologies”, uma empresa de investimentos quantitativos fundada pelo matemático Jim Simons e cujo fundo, “Medallion”, foi extremamente bem sucedido por mais de 30 anos.

“É interessante notar como há coisas que não vemos, mas os avanços sempre surgem nos bastidores”, ressalta.

Evolução constante

Ainda que seu gosto musical seja mais clássico, Javier é um profissional que se mantém atualizado e aproveita todas as mudanças que ocorrem no seu ambiente profissional.

“Por exemplo, a diversidade e a inclusão têm uma dinâmica muito interessante porque oferecem benefícios para o trabalho, geram mais ideias e oferecem oportunidades melhores e mais justas; isso auxilia os clientes, pois permite a criação de produtos personalizados”, assegura.

Além disso, considera que o mercado de trabalho atual é muito mais profissional do que há alguns anos. “Por um lado, o setor exige mais habilidades, melhor preparação e um comportamento mais ético de todos; por outro, as escolas [de negócios] também melhoraram muito e algumas oferecem ferramentas de informação financeira, tais como [o terminal] Bloomberg, de forma que seus alunos já saem com este conhecimento”, explica.

“Isso diz sobre a evolução e a profissionalização, mas também mostra que é muito importante ter mais pontes entre o mundo acadêmico e o mercado”, sugere.

“Algo muito gratificante para mim foi me envolver com a CFA Society México. Fiz os exames e obtive o Alvará ao passar do crédito para os mercados. Mais tarde, tive a sorte de ver a empresa crescer e o CFA deixou de ser desconhecido no México e passou a ser altamente valorizado por empregadores e reguladores. Por exemplo, anualmente fazemos o Research Challenge que tem sido eficaz em unir universidades e empregadores, e isso tem gerado um círculo virtuoso, com mais alunos considerando o CFA para complementar seus estudos e a indústria exigindo profissionais mais preparados. ”

Javier recomenda às novas gerações que jamais percam de vista que o setor bancário presta um serviço para a sociedade. “As novas oportunidades que irão surgir nos próximos anos exigirão mais preparação e especialização se comparado com a minha geração”, ressalta.

Nos últimos 25 anos, Javier vem intercalando os números com as notas musicais; nesse tempo, viu de perto como o mercado financeiro evoluiu e sabe que há muitos novos desafios nessa área – ainda que prefira os clássicos quando se trata de rock’n’roll.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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