Por Gerson Freitas Jr. e Tatiana Freitas.
Um executivo sem laços com a bilionária família Batista está emergindo na JBS.
Há menos de um mês, Gilberto Tomazoni foi nomeado diretor de operações da gigantesca empresa de carnes. Ninguém de fora da família havia ocupado um cargo tão elevado na companhia, que neste ano se tornou um ponto central da Operação Lava Jato, o escândalo de corrupção que não para de crescer no País.
É uma mudança notável para uma empresa até então totalmente comandada pela família fundadora. Como COO, Tomazoni agora responde apenas a José Batista Sobrinho — o JBS da JBS –, que retornou como CEO aos 84 anos.
Depois que Wesley e Joesley Batista, filhos do patriarca José Batista Sobrinho, foram presos, Tomazoni emergiu como esperança de calmaria em meio à tempestade, ajudando a minimizar receios de investidores com o futuro de uma das maiores empresas do Brasil.
“É um passo na direção certa”, disse Arjun Jayaraman, gestor de recursos que ajuda a administrar US$ 3,4 bilhões em ativos, incluindo cerca de US$ 30 milhões em ações da JBS, na Causeway Capital Management, em Los Angeles. “Parece o primeiro passo de um longo caminho.”
Irmãos na cadeia
De fato, o caminho será longo. Depois de comandarem a JBS durante os últimos dez anos e enfrentarem uma profunda investigação sobre suas relações com agentes públicos, Wesley e Joesley Batista confessaram ter subornado milhares de políticos e fecharam um acordo de delação premiada com promotores em maio. Eles foram presos em setembro em meio a investigações separadas — Wesley como parte de um inquérito sobre insider trading e Joesley acusado de ocultar informações dos promotores. Ambos negaram diversas vezes terem cometido qualquer irregularidade.
Há quem duvide da capacidade do patriarca de dirigir a empresa, que agora é muito maior, mais diversificada e complexa que o abatedouro que ele fundou há 60 anos. De certo modo, Tomazoni é quem realmente está administrando a JBS. Como COO, um cargo recém-criado, o engenheiro de 59 anos agora é responsável por supervisionar os negócios de carne bovina, suína e de frango da empresa.
“Em geral, o cargo de CEO é ocupado por executivos de 40 a 50 anos, não de 70 a 80”, disse Paulo Rabello de Castro, presidente do BNDES, o banco de fomento que é o segundo maior acionista da JBS. “Um cargo como o de presidente emérito do conselho seria melhor para o fundador da empresa”, disse ele na quarta-feira em um evento em São Paulo.
Tomazoni e outros executivos da JBS não quiseram fazer comentários para esta reportagem. Em uma resposta enviada por e-mail, um assessor de imprensa da companhia disse que Tomazoni tem “muita experiência” na indústria de alimentos e que sempre participou ativamente da estratégia de negócios e de seus impactos nos lados comercial e financeiro.
“Tomazoni é um profissional com grande experiência no setor e não é da família”, disse Soummo Mukherjee, estrategista da Mizuho Securities USA em Nova York. “Quanto menos membros da família Batista houver na JBS neste momento, melhor será a avaliação da empresa pelos investidores.”
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