Joaquim Levy, o salvador do Brasil, parece irritado. E os mercados também

Por Filipe Pacheco e Paula Sambo.

Joaquim Levy era visto como o homem que salvaria as finanças do Brasil. Um tecnocrata com doutorado pela Universidade de Chicago que ganhou o apelido de “Mãos de Tesoura” por endossar duras políticas de cortes orçamentários, ele entrou para o Ministério da Fazenda em janeiro com a missão, entre outras coisas, de preservar o grau de investimento do país.

Agora, oito meses depois, com o Congresso relutando em apoiar a maior parte de seus planos de austeridade e com o aumento da dissidência dentro do próprio gabinete da presidente Dilma Rousseff, torna-se cada vez maior a especulação de que Levy irá renunciar. Quando correu a notícia, na tarde de quinta-feira, de que ele não compareceria à próxima reunião de ministros da Economia do G-20, na Turquia — uma decisão que foi revertida mais tarde no mesmo dia –, esses temores aumentaram. Operadores do mercado de câmbio fizeram com que a moeda brasileira se depreciasse 0,6 por cento em apenas três minutos. Horas antes, o Tesouro tinha cancelado seu leilão semanal de dívidas pela primeira vez em 19 meses.

Dilma tem dado o melhor de si para apaziguar a especulação. Levy, afinal de contas, é a única figura em seu governo que conta com um apoio verdadeiro e inabalável de investidores. Se ele sair, especula-se que qualquer chance que o Brasil tenha de melhorar suas finanças e evitar um rebaixamento para o grau especulativo desaparecerá.

Na quarta-feira, ela esbravejou quando os repórteres perguntaram se Levy renunciaria, dizendo a eles que era “um desserviço à nação” sugerir que ele está “isolado” em seu governo. No dia seguinte, seu chefe de gabinete, o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, ecoou o sentimento da presidente após uma reunião com Levy e Dilma no palácio presidencial. A posição de Levy sobre o assunto é menos clara. Embora o jornal espanhol El País tenha informado que ele negou que renunciaria em uma entrevista na quarta-feira, ele não fez nenhuma declaração pública sobre o assunto nesta semana. As assessorias de imprensa do Ministério da Fazenda e do Palácio do Planalto não responderam a um pedido de comentário.

Em meio à especulação, o quadro fiscal do país só piora. Na segunda-feira, Levy disse a parlamentares que o governo não conseguiria sequer cumprir a promessa de poupar recursos, como ele havia prometido para o ano que vem (uma medida chamada de superávit primário).

“O mercado realmente acreditou nele”, disse Alberto Ramos, economista-chefe do Goldman Sachs Group Inc. para a América Latina, de Nova York. “Levy é persistente, então, se ele não conseguir levar adiante os ajustes necessários, é um mal sinal. Se ele não conseguir fazer isso, quem consegue?”.

Recessão e escândalo

Embora a moeda tenha se recuperado no fim da sessão de quinta-feira, o real continua a apresentar uma queda de 4,3 por cento frente ao dólar nesta semana. No acumulado do ano, o real perdeu 29 por cento, mais do que qualquer outra moeda entre as mais importantes do mundo. Os yields sobre os bonds locais do governo com vencimento em 10 anos pularam para 14,8 por cento no mercado local. Há um ano, eles operavam a pouco mais de 11 por cento.

Em muitos aspectos, a tarefa de Levy parecia desanimadora desde que ele assumiu o cargo. Além do fato de que o país já estava entrando em recessão – como resultado da queda dos preços das exportações brasileiras de commodities e dos quatro anos de políticas intervencionistas de Dilma –, um escândalo de corrupção que emanava da Petrobras se espalhava rapidamente.

A investigação paralisou algumas das maiores empresas do país, aprofundando a desaceleração econômica e, o que é ainda mais relevante, azedou as relações entre o Congresso e a presidente. Dilma tem enfrentado pedidos de impeachment, e tanto o líder do Senado quanto o da Câmara foram envolvidos na crescente investigação. A austeridade fiscal não tem sido uma prioridade real para a maioria dos principais tomadores de decisão de Brasília.

Susto no mercado

Essa não é a primeira vez que Levy assustou os mercados insinuando que está infeliz. Em maio, também circularam rumores de que ele poderia renunciar depois que ele não compareceu a uma reunião para anunciar um congelamento nos investimentos que ficou abaixo do que ele gostaria. O anúncio, na noite de quinta-feira, de que ele de fato vai participar da reunião do G-20 na Turquia, poderia sinalizar que essa crise de Levy também já passou. Mas por quanto tempo?

Dois funcionários do governo que conversam regularmente com Levy disseram no início da semana que o ministro vem perdendo a paciência com a falta de apoio dentro do governo a medidas fiscais mais agressivas. Várias de suas propostas para aumentar impostos ou cortar gastos foram barradas por seus colegas, por Dilma ou por líderes do Congresso, segundo esses funcionários, que pediram anonimato porque o assunto é privado. No revés mais recente, no fim de semana o governo deixou de lado os esforços para ressuscitar a CPMF depois que líderes do Congresso se mostraram contrários.

“Ver Levy sair seria pior que ver Dilma deixar o cargo”, disse Guilherme Esquelbek, operador de câmbio da Correparti Corretora de Câmbio, em Curitiba. “A saída dele é o pior cenário que poderíamos ter no momento”.

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