José Olympio, presidente do Credit Suisse, compara Brasil ao Titanic

Por Cristiane Lucchesi.

No Brasil, alguns capitães das finanças relutam em correr o risco de expressar publicamente seus temores a respeito da crise econômica no país.

José Olympio Pereira não faz parte desse grupo.

Segundos após o início de uma entrevista em São Paulo, na semana passada, o CEO da unidade brasileira do Credit Suisse Group AG demonstrou transparência e deixou claro seu ponto de vista quando, em resposta a uma pergunta sobre a situação do país, disse: “Estamos muito mal”. E quando diz “muito mal” ele sabe do que está falando. Segundo Pereira, 2015 e 2016 não serão os únicos anos perdidos para a economia: a crise poderá se estender por 2017 e possivelmente chegar a 2018.

Pereira não é nenhum executivo estrangeiro novato que caiu de paraquedas no Brasil para supervisionar sua empresa. Ele trabalha em bancos de investimento no país desde meados dos anos 1980, quando começou sua carreira sob o comando de Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do país, no Banco Garantia, no Rio de Janeiro. Uma coisa fundamental que ele aprendeu nas últimas três décadas é que se as autoridades e os parlamentares de Brasília não sentirem todo o peso da crise, eles não implementarão as medidas difíceis — cortes de gastos “massivos”, leis trabalhistas mais flexíveis — necessárias para reduzir o déficit público, reconquistar a confiança do investidor e reavivar a economia. Esta é precisamente a situação que ele enxerga hoje.

‘Trajetória’

“Eu acho que a crise não está sendo sentida pela população com a gravidade necessária para que as coisas melhorem”, disse Pereira, 53. Se as medidas não forem adotadas a tempo, o país pode passar por uma séria crise de dívida, disse ele. “Nós somos como o Titanic. O iceberg não está tão perto, está relativamente longe. Mas a nossa trajetória é muito preocupante”.

A trajetória é a seguinte: no fim de 2013 o Brasil tinha um déficit orçamentário equivalente a 3 por cento do Produto Interno Bruto; hoje, esse número é de mais de 9 por cento. É o maior déficit registrado pelo país nas últimas duas décadas pelo menos. A dívida bruta enquanto porcentagem do PIB deu um salto e somente nos últimos 12 meses passou de 58 para 66 por cento. Os esforços para frear os gastos e cortar esse déficit têm sido anulados pelo Congresso e por um escândalo de corrupção que fortalece aqueles que querem o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Pereira disse que Dilma — que nega qualquer irregularidade e diz que não renunciará — provavelmente sobreviverá até o fim do mandato, daqui a três anos.

“E nós continuaremos aos trancos e barrancos, com a crise piorando”, disse ele.

Mercados, visão de longo prazo

Os mercados financeiros brasileiros reagem ao impasse em Brasília. O real caiu 30 por cento em relação ao dólar neste ano, pior desempenho entre as principais moedas do mundo, e o índice acionário de referência, o Ibovespa, atingiu a maior baixa em seis anos em setembro. Os declínios começaram a atrair investidores estrangeiros, que buscam escolher ativos depreciados. Pereira citou a Blackstone Group e a Carlyle Group como compradoras recentes que chamaram a atenção dele e disse que tem visto outros fundos de private equity, investidores imobiliários e fundos soberanos procurando oportunidades.

Pereira disse que entende o que está atraindo essas empresas para a maior economia da América Latina: a grande população, a estabilidade institucional e, agora, a moeda fraca. O próprio Credit Suisse está ampliando sua equipe no Brasil, contratando 15 pessoas para a sua divisão de gestão de fortunas. O Credit Suisse — classificado em primeiro lugar neste ano no ranking de receita com banco de investimento no Brasil, segundo dados da Dealogic – emprega cerca de 800 pessoas no país. “Quem tem visão de longo prazo está muito animado”, disse Pereira. Vários setores do país, disse ele, estão indo bem e até mesmo prosperando, como as exportadoras de celulose e os frigoríficos.

Mas há muitas outras indústrias que o preocupam em meio ao aprofundamento da recessão. Por exemplo: todas as empresas que fornecem para a Petrobras, a gigante petrolífera estatal que está no centro de um escândalo de corrupção, e também firmas varejistas e outros negócios que dependem da demanda de consumo. Ele prevê uma contração econômica de mais de 3 por cento neste ano e de pelo menos 2 por cento em 2016. Após uma expansão de apenas 0,2 por cento em 2014 esses números — que não diferem muito das projeções de consenso — marcariam a recessão mais longa do Brasil desde os anos 1930.

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