JPMorgan alerta para endividamento elevado dos emergentes

Por Selcuk Gokoluk.

As defesas dos países emergentes se provarão insuficientes quando se depararem com a próxima fase ruim da economia global, alertou o JPMorgan Chase.

O endividamento aumentou demais e os bancos centrais têm pouca margem para ajudar com estímulos adicionais. Comparado com uma década atrás, quando veio a última crise financeira, há menos espaço para erros, na visão de Saad Siddiqui, estrategista-chefe da instituição para mercados locais na Europa, África e Oriente Médio.

“Em 2008, os níveis de endividamento dos emergentes não eram tão altos, falando tanto dos governos quanto do setor privado”, disse Siddiqui durante um fórum sobre emergentes realizado na London School of Economics na semana passada. “Em termos de política monetária, não está claro se países emergentes têm muito espaço para estimular” uma recuperação econômica.

A dívida global nominal total chega a um recorde de US$ 184 trilhões, o equivalente a 225 por cento do PIB em 2017, ou 11 pontos percentuais a mais do que nos oito anos anteriores, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.

Embora as economias desenvolvidas tenham mais dívidas, as emergentes foram responsáveis pela maior parte do aumento. Somente a China contribuiu com 43 por cento dessa expansão desde 2007, segundo o FMI. Analistas da Pimco alertaram que detentores de títulos de nações emergentes podem reaver menos dinheiro em situações de calote no futuro.

“As autoridades nos emergentes contaram com os bancos centrais para prover estímulo em vez de fazer as coisas difíceis que precisavam ser feitas para colocar a casa em ordem”, disse ele. Ele citou a reforma da previdência no Brasil como exemplo para reforçar a resistência contra choques futuros.

O estrategista do JPMorgan fez comentários adicionais sobre Rússia, África do Sul e Turquia:

Rússia

  • A Rússia é muito bem administrada ciclicamente porque tem um banco central com bastante credibilidade que adotou um regime de metas de inflação; a lei orçamentária também dá muita credibilidade à autoridade fiscal.

África do Sul

  • O país não foi capaz de implementar reformas para aumentar a produtividade e é um exemplo clássico de nação com endividamento relativamente grande que não consegue superar isso. Uma economia como a da África do Sul deveria estar crescendo bem mais rápido, mas não consegue por falta desse tipo de reforma.
  • O JPMorgan tem alocação maior em títulos públicos sul-africanos por causa da inflação bem comportada e do valor atraente dos papéis.

Turquia

  • O banco central foi capaz de manter os juros altos, mesmo enquanto o crescimento ruía. A questão maior do banco central é a direção de longo prazo.
  • O país conseguiu se estabilizar após a grave turbulência cambial em agosto e setembro, mas, no longo prazo, será que conseguirá recuperar a credibilidade para alcançar metas de inflação? As expectativas de inflação ainda estão longe da meta. O problema é dar à Turquia estabilidade no longo prazo, não apenas em seis meses, e para isso o banco central precisa ganhar muita credibilidade. E para ganhar credibilidade, precisa manter a política monetária rígida.

As vendas de títulos por países em desenvolvimento bateram recordes nos últimos quatro anos e atingiram US$ 2 trilhões em 2018, segundo dados acompanhados pela Bloomberg. Neste ano, as emissões estão a todo vapor: já foram levantados US$ 509 bilhões nos mercados internacionais de dívida em menos de quatro meses.

Na quarta-feira, Benim e Gana venderam títulos denominados em euros e dólares e a Turquia captou US$ 1 bilhão nos mercados internacionais. A maioria das moedas emergentes se desvalorizou nesta sexta-feira, após a divulgação de dados fracos sobre a atividade industrial na França e Alemanha, que aumentaram as preocupações com o crescimento mundial.

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