Por Ben Bartenstein.
Primeiro foi a derrapada da Argentina. Depois a Turquia. E logo em seguida, África do Sul, Brasil e Indonésia sofriam com a debandada dos mercados emergentes.
Com o fenômeno, instituições como JPMorgan Chase e BlackRock recorreram a uma única palavra: contágio.
O raciocínio é que, embora os emergentes possam oferecer valor no longo prazo, os investidores vendem ativos relativamente seguros para cobrir perdas em mercados mais vulneráveis ou, pior ainda, tratam todos os mercados emergentes da mesma forma e vendem indiscriminadamente. Quando a mentalidade de manada predomina, não importa o risco individual de cada país, e investidores que decidem comprar podem ser pisoteados enquanto os demais procuram a saída.
“Está havendo uma crise de confiança nos mercados emergentes e presença de algum nível de contágio”, disse Pablo Goldberg, gestor de recursos da BlackRock, em Nova York. “Com as oscilações cambiais de curto prazo, fica difícil entrar.”
As moedas de nações em desenvolvimento caíram para os menores patamares desde maio de 2017. Peso argentino, lira turca e rupia indiana atingiram os menores níveis históricos nos últimos dias, reforçando o argumento que esses episódios não são meramente idiossincráticos. A tensão no comércio global, o fortalecimento do dólar e a perspectiva de mais acréscimos nos juros pelo banco central dos EUA (Federal Reserve) reduziram os fluxos em carteira para mercados emergentes de US$ 13,7 bilhões em julho para US$ 2,2 bilhões no mês passado, de acordo com o Instituto de Finanças Internacionais, sediado em Washington.
“Não é uma boa narrativa para os mercados emergentes”, afirmou Anastasia
Amoroso, estrategista global de investimentos do JPMorgan Private Bank, em entrevista à Bloomberg TV. “Enquanto as guerras comerciais estiverem no centro das atenções e o Fed estiver subindo em ritmo acelerado em relação ao resto do mundo, acho que o ambiente justifica um dólar mais forte.”
Oportunidade de compra
Alguns investidores enxergam o movimento de queda como oportunidade de compra, dando ênfase a fundamentos mais robustos, como recuo da inflação, superávits comerciais e ampliação do diferencial nas taxas de crescimento econômico entre mercados emergentes e desenvolvidos.
“Um dos aspectos interessantes do contágio é causar a venda dos fortes e dos fracos”, disse Arjun Jayaraman, que ajuda a supervisionar US$ 4,8 bilhões na Causeway Capital Management, em Los Angeles. “É quando se deve agir e comprar moedas fortes, ativos de países exportadores, com superávit em conta corrente.”
Ações da Índia, Coreia do Sul e Taiwan estão atraentes neste ambiente, na visão de Jayaraman. Para Amoroso, os investidores eventualmente vão comprar dívidas denominadas em moeda local. Goldberg revelou que, se as preocupações com o comércio internacional diminuírem, ele deve preferir títulos soberanos denominados em moeda forte.
Isso talvez esteja longe. A pressão sobre os mercados emergentes tende a persistir. Turquia, Argentina, África do Sul, Paquistão, Brasil e Índia são alguns dos elos mais frágeis da cadeia, de acordo com relatório de estrategistas da Wolfe Research, incluindo Chris Senyek. A firma sediada em Nova York destaca que as probabilidades de calote na Ásia, os mercados de empréstimos interbancários da Europa e os spreads de contratos de proteção contra inadimplência (credit-default swaps ou CDS) de bancos exibem algumas similaridades com a crise nos mercados emergentes de 1997, o que sugere uma fragilidade mais ampla nessa classe de ativos.
“Nosso monitor de ‘implosão’ nos mercados emergentes sugere que a fraqueza está se espalhando pelos países mais vulneráveis”, disse Senyek.
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