Juros negativos não são motivo para temor

Por Narayana Kocherlakota.

Os principais bancos centrais estão contando cada vez mais com um método para estimular o crescimento econômico: taxas de juros negativas. Tenho certeza de que pode ser uma ferramenta valiosa, mas seu poder depende muito de como é usada.

É importante discutir o contexto. Um título que promete pagar US$ 1.000 dentro de um ano tem taxa negativa se seu preço atual for superior a US$ 1.000. Antigamente, os economistas pensavam que ninguém pagaria. Afinal, qualquer um poderia garantir US$ 1.000 dentro de um ano simplesmente deixando US$ 1.000 embaixo do colchão. Ocorre que deixar dinheiro em local seguro tem custo. Portanto, há quem aceite taxa negativa – chegando a menos 0,75 por cento – para o dinheiro ficar guardado por períodos longos. Assim, ao levar os juros para território negativo, os bancos centrais dão a pessoas físicas e jurídicas mais um incentivo para gastar agora, antes que o valor desse dinheiro seja corroído, e isso dá estímulo temporário à economia.

Recentemente participei de uma conferência na Brookings Institution, em Washington, na qual economistas avaliaram o impacto dos juros negativos na zona do euro, Dinamarca e Suíça. A conclusão abrangente foi que as taxas abaixo de zero não têm nada de especial. O efeito de um corte de 0,5 por cento para 0,25 por cento aparentemente é parecido com o de um corte de menos 0,25 por cento para menos 0,5 por cento. As duas decisões incentivam gastos e ambas fazem com que bancos e seguradoras reclamem com as autoridades monetárias sobre a queda de seus lucros.

Dito isso, a forma de comunicação é relevante. Bancos centrais geralmente relutam em lançar mão de juros negativos. Nos EUA, por exemplo, o Federal Reserve evitou a medida até nas profundezas da última recessão. Essa relutância pode fazer com que um corte para abaixo de zero pareça um ato de desespero, abalando a confiança dos agentes na economia. Esta é uma explicação plausível para a eficácia menor que o esperado da decisão do Banco do Japão em janeiro de deixar os juros ligeiramente negativos. O Fed corre o risco de cair na mesma armadilha ao insistir que nem considera mover os juros para território negativo, embora o rendimento que a instituição paga sobre as reservas bancárias permaneça muito próximo de zero.

A comunicação é particularmente importante por causa do nervosismo das pessoas – e dos representantes que elas elegem – quando se fala em juros negativos. O banco central dinamarquês conseguiu algum apoio político e até aprovou legislação para instaurar juros negativos. A principal diferença é que a população compreende e apoia totalmente o objetivo do banco central de manter a estabilidade da taxa de câmbio entre a coroa dinamarquesa e o euro. O Fed e outros bancos centrais enfrentarão menos obstáculo políticos à implantação de juros negativos se fizerem mais para garantir que seus mandatos tenham apoio amplo da população.

Eventualmente, as taxas de juros negativas podem se tornar uma ferramenta ainda mais poderosa. Alguns economistas – como Miles Kimball, da Universidade de Michigan, que fez uma palestra na conferência da Brookings – ressaltam que os bancos centrais são capazes de deixar as taxas tão negativas quanto acharem necessário. Para aumentar o custo de guardar cédulas, por exemplo, as autoridades poderiam cobrar uma tarifa dos bancos para converter os valores em dinheiro eletrônico.

Seria uma opção útil do ponto de vista econômico, mas as autoridades precisam reconhecer que obrigar as pessoas a pagar, digamos 6 por cento, apenas por terem dinheiro pode causar indignação. Para que essa política funcione, as autoridades precisariam dar muitas explicações adiantadas. Essa comunicação teria a vantagem adicional de garantir que a população entenda os objetivos do banco central e apoie seus métodos para cumpri-los.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do comitê editorial da Bloomberg LP e seus funcionários.

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