Lava Jato volta ao radar do mercado

Por Josué Leonel, com a colaboração de Marisa Castellani.

O real tem hoje o melhor desempenho contra o dólar entre as 16 principais moedas globais e a segunda maior alta entre as 24 principais divisas de países emergentes. Os juros futuros caem e a bolsa dispara. Em grande parte, esse desempenho deve-se ao alívio dos investidores com a alta do petróleo e das ações no exterior. Para alguns participantes do mercado, contudo, pelo menos parte dos ganhos dos ativos brasileiros deve-se ao noticiário da Lava Jato, que colocaria novamente o mandato da presidente Dilma Rousseff na berlinda.
 

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O dia começou com o retorno da operação Lava Jato aos holofotes. O pedido de prisão de João Santana, marqueteiro da campanha de reeleição da presidente Dilma, colocou em foco a ação que corre contra a presidente e o vice Michel Temer no TSE por supostas irregularidades na campanha. Embora as avaliações ainda sejam cautelosas, profissionais do mercado consideram que as investigações renovam as esperanças dos investidores em uma mudança política que restabeleça a confiança na economia.

Para Vladimir Caramaschi, estrategista do Crédit Agricole Brasil, parte do mercado pode estar começando a ver que a situação da presidente está ficando mais ”perigosa”, especialmente em relação à ação no TSE. E, como o mercado é cético sobre a capacidade do governo de aprovar as reformas, qualquer sinal de mudança gera esperanças. “É muito difícil ver uma resolução da crise que não passe por uma transição política”, disse ele.

Rafael Cortez, analista da Tendências Consultoria, que manteve em 45% as chances de Dilma perder o mandato mesmo no período recente de maior tranquilidade política, diz que o foco das investigações em Santana faz ”uma ponte” entre o escândalo da Petrobras e a eleição de 2014. “O sentimento de calmaria anterior não era condizente com o balanço de riscos.”

Algumas consultorias ainda mostram cautela diante da repercussão da nova fase da Lava Jato. Lucas de Aragão, da Arko Advice, considera que a investigação de Santana aumenta a pressão sobre o TSE, mas isso não significa necessariamente que um desfecho ocorrerá logo. Para ele, o Tribunal nunca julgou um caso de tamanha importância. No caso de governadores, o processo demorou de 2,5 a 3 anos. Avaliação semelhante tem Christopher Garman, da consultoria Eurasia. Segundo ele, o TSE não tende a acelerar sua decisão, que não deve ocorrer antes do desfecho do processo de impeachment no Congresso.

A avaliação mais favorável sobre o cenário político, porém, parece predominar no mercado. Isso se reflete na queda de mais de 2% dólar, na disparada de quase 4% do Ibovespa e no fato de os juros mais longos estarem caindo com mais força do que os mais curtos na BM&F. É a esperança de Dilma ser substituída por um governo mais forte e comprometido com as reformas, dizem os profissionais do mercado. Caso o TSE casse o mandato de Dilma, também o vice Michel Temer perde o seu mandato, levando à convocação de novas eleições.

O raciocínio que embala o desempenho positivo do mercado, dizem os operadores, é que, em um ambiente de profundo desgaste do governo, a oposição teria chances reais de vitória. Ainda que não haja certeza de que um eventual governo da oposição terá poder para aprovar as reformas, o simples fato de haver perspectiva de mudança seria motivo de otimismo.

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