Legacy Capital desafia consenso em aposta otimista com real

Por Felipe Marques e Vinícius Andrade.

A Legacy Capital viu seu otimismo com a vitória de Jair Bolsonaro ser recompensado no ano passado. Agora, a gestora preparou outro movimento arrojado para permanecer à frente dos rivais.

A Legacy, fundada em 2018 por ex-executivos da tesouraria do Banco Santander Brasil, vê o dólar caindo abaixo da mediana do mercado de R$ 3,80 neste ano, ainda que o recente retorno das preocupações sobre a guerra comercial tenha tornado mais difícil precisar o tamanho exato da valorização que espera para a moeda brasileira.

“Nós vemos mais prêmio no real do que em qualquer outra classe de ativos”, disse Felipe Guerra, sócio-fundador da Legacy, em entrevista. “Pode ser um movimento muito forte e ainda é a melhor aposta mesmo que o cenário global de curto prazo fique mais complicado.”

O rali esperado por Guerra representaria uma recuperação para o real. O dólar acumula alta de 2% neste ano, em meio a preocupações sobre guerra comercial entre EUA e China, assim como a turbulência em mercados emergentes, como Turquia e Argentina. As idas e vindas nas negociações da reforma da Previdência – o carro-chefe da agenda econômica de Jair Bolsonaro – também afetaram a moeda.

A aposta da Legacy no real se tornou possível graças ao que Guerra vê como “estabilização global” em relação ao começo do ano, em meio a dados melhores da economia global. “Nós não estamos vendo um cenário de redução de estímulos e isso é positivo para os mercados emergentes como um todo”, disse, adicionando que espera um desfecho positivo para as relações comerciais entre EUA e China.

O cronograma do governo brasileiro de vendas de ativos, concessões e ofertas públicas iniciais de ações de empresas estatais também corroboram a visão mais construtiva, com expectativa de entrada de mais dólares no país. Esse fluxo também depende de o Brasil ser capaz de avançar com a reforma da Previdência, que Guerra espera que seja aprovada na Câmara dos Deputados no terceiro trimestre do ano. Ele vê uma reforma trazendo uma economia de cerca de R$ 800 bilhões em uma década, em comparação ao R$ 1,1 trilhão da proposta inicial.

Ações americanas

A volatilidade provocada pelos tensões comerciais significa “uma oportunidade de compra para ações americanas”, uma posição que a Legacy tem aumentado recentemente. Ele protege essa aposta sendo “um pouco comprado” no dólar e com uma posição aplicada nos títulos do Treasury de 10 anos. Para ações locais, Guerra disse que a gestora reduziu sua exposição desde o começo do ano.

Em relação ao mercado de juros local, Guerra disse que o fundo recentemente encerrou a exposição direcional após ganhos em sua aposta na ponta curta da curva, com discussões sobre possíveis cortes adicionais de juros ganhando tração. Agora, esse debate está em pausa, em meio ao progresso mais lento do que o esperado da agenda reformista e dados de inflação acima do esperado.

O fundo carro-chefe da gestora – Legacy Capital Master FIM – apresentou um retorno total de 15% desde o seu lançamento em junho, segundo dados compilados pela Bloomberg, 9,7 pontos percentuais acima do CDI. O fundo tem hoje R$ 4,78 bilhões em ativos sob gestão e está atualmente fechado a novos investidores.

“Nós tentamos ignorar o ruído de curto prazo”, diz Guerra. “Se você tiver as reformas, o Brasil pode crescer até 3,5% por três anos sem inflação, um cenário que eu nunca vi antes.”

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