Por Shelly Banjo.
A série de medidas aprovadas em votação nesta semana revela que é apenas questão de tempo para que a legalização do uso de maconha seja a lei geral nos EUA. Os investidores já estão encontrando formas de entrar na onda.
Quatro estados decidiram, em votação na terça-feira, legalizar o uso recreativo de maconha, e outros quatro estados aprovaram o uso com fins medicinais. Isso levou o número de americanos que mora em estados onde o uso recreativo de maconha é legalizado para mais de 20 por cento da população dos EUA. Essa porcentagem sobe para 58 por cento e 66 por cento da população do país se somados os estados onde o uso medicinal está legalizado e os estados que descriminalizaram a droga, respectivamente.
A lei federal sobre o uso recreativo de maconha não deve estar muito perto. Mas isso é quase irrelevante. Os estados estão seguindo seu próprio caminho e provavelmente ficarão ainda mais encorajados quando defensores dos direitos estatais entrem na Casa Branca, no Senado e na Câmara de Representantes.
Também não é prejudicial que o presidente eleito Donald Trump tenha declarado seu apoio ao uso medicinal da maconha — embora o fato de ele mudar de ideia constantemente sobre praticamente qualquer coisa, junto com a oposição à maconha do vice-presidente eleito Mike Pence, obscureça essa posição. Talvez tenha sido por isso que um índice da Bloomberg Intelligence com 32 empresas de capital aberto envolvidas com produtos relativos à cannabis caiu 7 por cento na terça-feira.
Mesmo assim, apesar dessa queda — que se concentrou em três companhias farmacêuticas –, o índice acumula alta de 181 por cento no ano.
Além das empresas relacionadas diretamente com a produção de cannabis, muitas das quais podem ser caracterizadas como farmacêuticas, vários outros empreendimentos podem se beneficiar.
Por exemplo, pode apostar que as gigantes do setor do tabaco R.J. Reynolds Tobacco Co., Altria Group e Phillip Morris International não estão de braços cruzados. Como me contou um grande executivo da indústria do tabaco em março, essas empresas já sabem como ganhar dinheiro na indústria do cigarro, que é altamente regulada, e não vai ser diferente com a maconha.
Não é segredo que os cigarros eletrônicos e os produtos que esquentam o tabaco, em vez de queimá-lo, também são utilizados por usuários de maconha. Minha colega Tara Lachapelle destaca que há US$ 45 bilhões em potencial de demanda anual no uso recreativo de maconha nos EUA, e as empresas da indústria do tabaco são perfeitas para atender a esse mercado.
Depois, há companhias como The Scotts Miracle-Gro, que se beneficiam com o cultivo de maconha. Nos últimos 18 meses, a Scotts vem comprando empresas que fabricam fertilizantes, luzes e outros equipamentos para os produtores. A unidade de hidropônicos da empresa agora gera US$ 250 milhões em vendas anuais. Também estão se beneficiando as lojas que vendem produtos para casa e jardim e as lojas de ferragens, como Home Depot e True Value, cujas vendas nessa área dispararam nos últimos 12 meses.
Para encontrar o outro lado deste comércio, busque as empresas que estão investindo pesado contra a legalização da maconha. A indústria de bebidas alcoólicas, por exemplo, receia que tornar a maconha mais disponível fará com que as pessoas bebam menos, indica Jennifer Kaplan, da Bloomberg News. A Boston Beer Company, fabricante da cerveja Sam Adams, e a Brown-Forman, exportadora do uísque Jack Daniel’s, são algumas das empresas que consideram que a legalização da maconha é uma ameaça para elas.
As companhias farmacêuticas, temendo a concorrência para seus ansiolíticos e outros remédios, também financiaram medidas contrárias à maconha. Uma fabricante de analgésicos, a Insys Therapeutics, conquistou uma vitória na terça-feira quando o Arizona optou na votação por não legalizar o uso recreativo da maconha. O uso medicinal está legalizado neste estado desde 1996.
No entanto, se é que a eleição de terça-feira nos ensinou algo, é que os EUA estão mudando, assim como as verdades que alguns consideram incontestáveis. A legalização da maconha não vai ser uma exceção.
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