Libertação de líder opositor da Venezuela pode virar problema

Por Andrew Rosati e Fabiola Zerpa.

A abrupta transferência de Leopoldo López para a prisão domiciliar após três anos em um presídio militar foi motivo de comemoração em certos setores do triste cenário político da Venezuela.

O presidente Nicolás Maduro lavou suas mãos em relação a um homem que simbolizava os abusos dos direitos humanos. Os seguidores de López celebraram seu retorno como vitória contra um regime autoritário. Mas a turbulenta coalizão opositora, que durante meses manteve uma voz unida, ficou abalada porque a reaparição do carismático ex-prefeito pode reabrir antigas divisões.

“Ele acaba com a oposição em um momento fundamental”, disse o consultor político Ángel Álvarez. “A libertação dele cria um novo obstáculo para a agenda política deles.”

Os que tentam destituir Maduro se fortaleceram enquanto López esteve preso. Aumentaram sua presença em bairros de Caracas que antes apoiavam o presidente e seu antecessor, Hugo Chávez. Até mesmo chavistas dissidentes disseram que o movimento foi traído. Agora, a oposição precisa reintegrar um líder que fez carreira com um estilo autônomo, apesar de tentar frustrar as iniciativas de Maduro de consolidar o poder e reformar a constituição.

Desde a madrugada em que foi transferido, López está com sua família em uma área luxuosa de Caracas, cidade da qual foi prefeito. Dias após a volta para casa, pequenos grupos permanecem em frente ao condomínio fechado, comemorando e prendendo cartazes e mensagens de apoio nas paredes. A polícia da inteligência venezuelana patrulha a região. No sábado, López disse em uma carta aberta que continuaria sendo opositor e falou de sua “convicção para lutar pela verdadeira paz, pela coexistência, pela mudança e pela liberdade”.

Diferenças

López precisa decidir como lidar com um cenário político que deixou pelo menos 90 mortos neste ano, entre eles um menino de 16 anos morto na segunda-feira enquanto manifestantes tentavam bloquear as ruas.

Todos principais nomes da oposição promovem protestos nas ruas. Contudo, os membros do partido de López, Vontade Popular, são considerados há muito tempo a linha-dura que não negocia com o governo. No ano passado, eles não participaram dos diálogos mediados pelo Vaticano porque muitos membros, inclusive López, continuavam presos.

No domingo, a oposição organizará um plebiscito não oficial sobre as iniciativas de Maduro para reescrever a constituição, um ato de desobediência civil para o qual esperam atrair milhões de pessoas. Mas, nos preparativos para a votação, parece que velhas diferenças estão ressurgindo. Após a libertação de López, membros do Vontade Popular foram vaiados quando tentaram reduzir para duas horas um protesto programado. Eles cederam rapidamente, mas não conseguiram evitar críticas dos próprios aliados.

Desconfiança

Além disso, as circunstâncias em torno da libertação deram novos motivos para que os líderes da oposição desconfiem dele: a esposa de López, Lilian Tintori, agradeceu publicamente a dois membros fundamentais do governo de Maduro por reunirem a família dela.

“Temos que trabalhar juntos para chegar a um entendimento”, disse Tintori em uma manifestação após a transferência do marido, destacando os esforços dos irmãos Delcy e Jorge Rodríguez – a ex-ministra de Relações Exteriores e o atual prefeito de Caracas. “Vocês podem contar comigo.”

Os comentários pegaram muitos opositores de surpresa porque Tintori havia dito várias vezes que seu marido, preso por ter sido acusado de incitar a violência, rejeitaria qualquer acordo enquanto centenas de outros ativistas e políticos estiverem atrás das grades.

David Smilde, sociólogo da Tulane University em Nova Orleans, descreveu López como uma “força perturbadora” que poderia subverter alianças incômodas dentro da oposição. “A unidade sempre foi o ponto mais fraco deles – não há um líder claro”, disse Smilde.

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