Ligia Kogos: O refúgio do Botox da elite e do possível presidente

Por Blake Schmidt.

O homem que em breve pode se tornar o próximo presidente do Brasil, o vice-presidente Michel Temer, trata suas manchas de sol na clínica da doutora Kogos. Ele ama o sérum facial com vitamina C dela. Sua esposa, Marcela Temer, ex-miss Paulínia, 43 anos mais jovem, também é cliente assídua, assim como estrelas da TV brasileira, herdeiros de fortunas, supermodelos e políticos, sem contar executivos americanos e a rainha da Suécia.

Ligia Kogos, cuja idade é deliberadamente omitida, é a excêntrica dermatologista cosmética que afirma possuir a maior clínica de Botox da América Latina. A Allergan, fabricante do Botox, confirma que ela está entre suas maiores clientes. Sua instalação está localizada dentro de uma mansão de estilo colonial reformada no elegante bairro do Jardim Paulista, em São Paulo, com entrada pelos fundos para os clientes mais exclusivos preocupados com os olhares curiosos. Pinturas da França, cadeiras de pele de zebra e revistas Marie Claire decoram a sala de espera. Café expresso e limonada diet são cortesia da casa. Em uma tarde recente, havia SUVs de luxo estacionados do lado de fora e a lista no Spotify pessoalmente escolhida pela médica tocava Forever Young.

É um lugar muito chique para se refugiar do mundo exterior, que atualmente parece estar desabando. O Brasil enfrenta a maior recessão em um século e uma severa crise política que culminou no processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff; a Câmara dos Deputados votou favoravelmente e Dilma pode ser temporariamente removida quando forem iniciadas as deliberações do Senado, o que significa que Temer seria empossado. O desemprego está próximo do nível mais alto em seis anos e a inflação se mantém perto dos dois dígitos. Mesmo assim, há três meses de espera para uma consulta com a doutora Kogos.

Os 26 funcionários da clínica da doutora Kogos atendem até 100 pacientes por dia. O volume é alto, mas o tratamento é personalizado. A própria médica pode facilmente ser encontrada conversando com os clientes por horas a fio, como fez nesta entrevista de cinco horas. Às vezes ela deixa a clínica apenas depois da meia-noite. O marido gerencia sua nova linha de cosméticos. O casal se conheceu na faculdade de medicina, onde ele era professor dela, e viajou de lua de mel à Disney World.

Kogos se descreve como antifeminista. Ela reprovou a reação on-line a um perfil recente da revista Veja sobre sua cliente Marcela Temer, que pode se tornar primeira-dama se a presidente Dilma Rousseff for retirada do cargo. Os usuários do Facebook zombaram do título da matéria — “Bela, recatada e do lar” — com postagens mostrando comportamentos menos recatados: virando garrafas, dançando twerking, travestindo-se, fumando na banheira.

“As feministas, os comunistas, são grupos muitos ativos nas redes sociais. Eles não têm nada melhor para fazer, por isso têm tempo para essas agressões”, disse Kogos. “Ela é uma mulher muito jovem que conheceu um homem muito importante. Ela tem a aparência de uma adolescente”.

Autoproclamada “monarquista libertária”, ela acredita que a crise política do Brasil poderia acabar com a divisão do sul, mais rico, e do norte, mais pobre, em autonomias separadas. Seus pontos de vista são influenciados pelo filho, que frequentou uma academia militar em Vermont, nos EUA, e considera Milton Friedman comunista. A melhor forma de redistribuir riqueza, diz ela, é fazendo os ricos gastarem com isenções fiscais.

As visitas de celebridades e socialites a colocam nas manchetes, mas Kogos considera que a maior parte da receita da clínica vem de clientes menos ricos — de longe o maior mercado para sua nova linha de cosméticos. Ela lembra de uma vez que tratou da perda de cabelo da cozinheira de uma rica família paulista, a cliente ficou chocada ao ver como seus preços eram razoáveis. “É o fato de as pessoas quererem ser algo mais que torna o negócio viável”, diz Kogos.

Ela diz que sua idade será um eterno mistério — “entre 20 e a eternidade”, diz ela — e seus clientes geralmente são aconselhados a não revelarem que fizeram algum tipo de procedimento. Seus lábios estão preenchidos e sua pele, firmemente esticada no rosto. Quando pediram que mostrasse o estoque de Botox de sua clínica — um congelador recheado de pequenas caixas em um quarto nos fundos — ela pediu para um ajudante fazê-lo. “Não é muito glamoroso”, disse ela. Pelo menos não para a dermatologista do possível presidente do Brasil.

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