Limpeza após tragédia atrasa retorno de produção da Samarco

Por R.T. Watson.

Apenas quatro meses após o deslizamento mortal que destruiu uma comunidade de mineração inteira em Minas Gerais em novembro, as empresas responsáveis trabalhavam para retomar a produção de minério de ferro até o fim de 2016.

Em março, centenas de pessoas que perderam suas moradias no desastre dormiam em camas novas. Crianças que haviam sido privadas de sua escola voltavam às aulas em prédios reformados. Milhares de peixes e outros animais haviam sido salvos ou realocados em locais distantes das áreas poluídas pelos bilhões de litros de lama. Tudo pago pela mina e suas proprietárias, a BHP Billiton e a Vale, que haviam concordado com um plano de R$ 12 bilhões (US$ 3,66 bilhões) fechado com o governo para realizar a limpeza após o rompimento de uma barragem de rejeitos em novembro.

Mas a joint venture Samarco Mineração continua ociosa nove meses após o deslizamento — incapaz de extrair minério sem um local autorizado para depositar os indesejados rejeitos e nenhuma data de início no horizonte. O plano da BHP e da Vale de retomar a produção usando temporariamente uma mina vazia para os rejeitos foi atrasado por obstáculos políticos e regulatórios. Isto pode significar que as operações não serão retomadas nos próximos dois anos em uma empresa que gerava mais de R$ 2 bilhões em lucro anual para suas proprietárias.

“Vai ser difícil”, disse o subsecretário de regularização ambiental de Minas Gerais, Anderson Silva de Aguilar, que supervisiona o esforço da Samarco para recuperar as licenças de operação.

Sem a receita da mina da joint venture e com crescentes questionamentos a respeito da data de reinício da produção, a BHP e a Vale estudam uma possível renegociação da dívida da Samarco, segundo pessoas informadas sobre o assunto. O total de US$ 1 bilhão em títulos da empresa para 2022 acumula queda de 40 por cento desde o fim de março, pior desempenho entre dívidas emitidas por mais de 300 empresas de mineração e metais monitoradas pela Bloomberg.

A proposta atual da Samarco para retomar a produção envolve o uso de uma caverna escavada perto da mina com capacidade para armazenar 22 milhões de metros cúbicos de rejeitos, o suficiente para mais de dois anos. Isto daria à empresa tempo suficiente para encontrar um meio alternativo de disposição de rejeitos, incluindo a possível concepção e construção de uma nova barragem para substituir aquela que se rompeu em novembro, matando pelo menos 19 pessoas.

“Se eles pudessem colocar os rejeitos nessa caverna, uma área que já é considerada degradada do ponto de vista ambiental, seria favorável”, disse Aguilar. Mas o uso de uma mina antiga para armazenar rejeitos não é algo que os órgãos reguladores estão acostumados a avaliar, disse ele, acrescentando que há um estudo científico em andamento para entender melhor a proposta e ajudar a determinar sua viabilidade.

O plano da caverna é simples e viável e deveria ser aprovado rapidamente, diz Clóvis Torres, consultor-geral da Vale. A empresa está empenhada em colocar a Samarco em operação novamente, embora não haja clareza em relação a quando isso ocorrerá, disse ele.

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