Macri marca fim época de ouro de esquerda populista na América Latina

Por Raymond Colitt, Anna Edgerton e Charlie Devereux, com a colaboração de John Quigley.

O presidente eleito Mauricio Macri está prometendo mudar completamente a economia e a política exterior da Argentina introduzindo medidas de livre comércio e favoráveis ao mercado – um prego no caixão do populismo econômico que dominou grande parte da América do Sul durante uma década.

Macri, um rico empresário de 56 anos, disse que vai abandonar os controles cambiais, cortar os subsídios, estabelecer laços mais estreitos com as economias abertas da Aliança do Pacífico e tentar expulsar a Venezuela socialista do Mercosul, o bloco de comércio regional, apenas três anos depois de o país ter conseguido entrar.

Líderes de esquerda em toda a região estão perdendo apoio à medida que o dinheiro para seus generosos programas sociais está acabando, com o fim do boom das commodities, disse Riordan Roett, diretor de Estudos Latino-Americanos da Faculdade de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, em Washington. Hugo Chávez da Venezuela e Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil já não dominam o continente, propondo uma nova forma de socialismo para o século 21 e atormentando os EUA.

“A esquerda populista está indo embora”, disse Roett em entrevista por telefone. “Todos eles aproveitaram o boom das commodities que começou no início dos anos 2000 e o desperdiçaram, não o investiram. Agora o dinheiro acabou”.

A Argentina vai registrar neste ano seu maior déficit fiscal em quase trinta anos e o déficit do Brasil está a ponto de bater um recorde. A Venezuela já nem informa mais seu balanço fiscal e sua economia desliza para o caos.

Boas notícias

A mudança em direção a políticas mais ortodoxas é uma boa notícia para os negócios, disse Michael Shifter, diretor da Diálogo Interamericano em Washington.

Macri conversou por telefone com o presidente Barack Obama na quarta-feira sobre comércio e o setor de energia e concordou em fortalecer os vínculos de investimento com o Reino Unido, em um telefonema com o primeiro-ministro David Cameron. A atual presidente, Cristina Kirchner, manteve relações ruins com os EUA e ainda piores com o Reino Unido.

Macri também disse que vai incentivar o Mercosul a avançar em negociações comerciais com a União Europeia.

No Brasil, a mudança na política significa que o governo está recorrendo a investidores privados e estrangeiros a fim de ajudar a financiar projetos de infraestrutura. Na tentativa de fortalecer as contas públicas, o governo vendeu na semana passada os direitos para operar 29 usinas hidrelétricas, levantando R$ 17 bilhões (US$ 4,4 bilhões) dos licitantes, incluindo a China Three Gorges Corp.

Enfrentando o déficit fiscal, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, está revertendo isenções de impostos, reduzindo os gastos e aumentando preços regulados, incluindo os de combustível e energia, com o déficit orçamentário aumentando. Por causa disso, sua taxa de reprovação chegou ao valor mais alto na comparação com a de qualquer outro presidente brasileiro.

Debate sobre o Mercosul

O primeiro ponto de conflito de Macri pode ser sua promessa de expulsar a Venezuela do Mercosul. Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, já se referiu à eleição de Macri como um “erro histórico” e advertiu contra a intromissão dele no seu país.

Macri também vai buscar estreitar relações com as economias mais abertas da Aliança do Pacífico – México, Chile, Colômbia e Peru – que evitaram a recessão após a queda dos preços das commodities. Essa atitude mais aberta certamente incluirá vínculos mais estreitos com os EUA.

“Há uma sensação de que estão acontecendo mudanças na região, de que a velha noção de ‘culpar os EUA, correr para os braços de Pequim e torcer para que os mercados de commodities permaneçam eternamente em alta’ já não funciona”, disse Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas.

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