Por Fabiana Batista e Tatiana Freitas.
Acordos bilionários que movimentam a indústria global de químicos agrícolas podem prejudicar produtores rurais no Brasil, de acordo com o ministro da Agricultura, Blairo Maggi.
Segundo ele, acordos como o da compra da Monsanto pela Bayer por US$ 66 bilhões podem causar concentração excessiva na oferta de sementes e defensivos agrícolas, abalando a concorrência e os lucros dos agricultores.
“Há apenas um pequeno número de fornecedores para um mundo muito grande, e isso pode fazer com que os produtores se tornem apenas uma parte de um sistema de integração, onde você ganha só um pouco para se manter na cadeia”, disse Maggi em entrevista em São Paulo.
O ministro, que vem da família que controla um dos maiores empreendimentos de soja do País, o Grupo Amaggi, ressaltou que estava falando “como produtor” e que o governo não deve interferir em transações privadas, deixando essa tarefa para as autoridades reguladoras. O faturamento anual do grupo da família dele é de US$ 3,8 bilhões.
Consolidação
A indústria global de sementes e químicos agrícolas passa por uma rápida consolidação. No ano passado, a Bayer acertou a compra da Monsanto. DuPont e Dow Chemical planejam uma fusão de iguais de US$ 59 bilhões. A China National Chemical espera concluir a aquisição da companhia suíça de sementes Syngenta por US$ 43 bilhões.
O acordo Bayer-Monsanto já havia causado desconforto no Brasil. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) teme que a fusão proposta provoque concentração do mercado e custos maiores para os produtores rurais, segundo informação passada em novembro por um representante com conhecimento direto do caso. No mundo todo, os agricultores enfrentam queda de lucros após vários anos de baixa nos preços dos alimentos. Os produtores no Brasil foram especialmente prejudicados pela recessão e pelo aperto nas condições de crédito.
Também ocorre consolidação no mercado brasileiro. Diversos compradores estrangeiros adquiriram empresas menores que negociam fertilizantes, químicos agrícolas e sementes. A chinesa Hunan Dakang Pasture Farming no ano passado comprou o controle da Fiagril, do Mato Grosso, por US$ 286 milhões e está em negociações avançadas para adquirir o controle da paranaense Belagrícola. Em 2015, a japonesa Sumitomo comprou 65 por cento da Agro Amazônia Produtos Agropecuários, do Mato Grosso.
Maggi disse que um novo plano do governo deve ampliar a disponibilidade de crédito para os produtores rurais. O Brasil pretende liberar a compra de propriedades rurais por estrangeiros, medida que, segundo o ministro, também tende a injetar mais recursos na agricultura uma vez que permitirá que os bancos estrangeiros possam executar terras dadas em garantia em empréstimos.
Ainda assim, a expansão do setor agrícola será modesta, uma vez que os preços atuais de commodities como soja e milho não são suficientes para dar retorno sobre investimentos maiores, ele disse, acrescentando que há poucos grandes grupos globais com know-how para operar grandes fazendas no País.
No ano passado, a área plantada com soja aumentou 1,6 por cento, o menor crescimento desde 2006. Para Maggi, que durante décadas liderou a expansão da cultura no Cerrado, esse ritmo pode ser considerado um novo padrão para a expansão agrícola brasileira.
“São necessários pelo menos oito anos para o investimento se pagar”, disse Maggi. “Para um produtor que depende de recursos de terceiros, não é algo viável.”
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