Por Josué Leonel, com a colaboração de Vinícius Andrade.
O dólar está em queda pelo terceiro dia seguido, apesar das atuações diárias do Banco Central com swaps reversos. O risco Brasil, medido pelo CDS, chegou a cair para menos de 290 pontos e o Ibovespa tem a sétima alta seguida. A eleição de Rodrigo Maia na Câmara ampliou o otimismo com o governo de Michel Temer em um momento favorável aos mercados emergentes no exterior diante da perspectiva de que os juros dos principais bancos centrais do mundo ficarão baixos por período mais longo do que se imaginava antes.
O mercado vive um momento de “euforia interna e externa”, diz Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora. No Brasil, a esperança de um governo mais comprometido com reformas estruturais “é um cenário que vai se consolidando”. Ao mesmo tempo, os BCs dos EUA, Reino Unido e Japão têm sinalizado juros baixos prolongados ou até mesmo novos estímulos. “O horizonte de liquidez no exterior continua muito positivo”, diz o estrategista.
A vitória de Maia como presidente da Câmara foi vista pelas principais consultorias políticas como favorável ao novo governo. O fato de o deputado ter contado com votos da esquerda para bater Rogério Rosso, do chamado centrão, gerou certa estranheza. Contudo, agrada aos investidores a conhecida posição de Maia e seu partido, o DEM, tradicionalmente favorável às reformas fiscais e privatizações. Agenda semelhante tocada no governo FHC teve apoio decisivo do PFL, partido do qual nasceu a sigla atual de Maia.
Além do aspecto das reformas, a vitória de Maia também reforça a expectativa do mercado de que Dilma Rousseff seja definitivamente afastada no final de agosto. Um dos aspectos destacados na eleição de ontem é que foi uma vitória política de Temer, como destacou a consultoria Arko Advice. “O fato de a eleição ter sido decidida no segundo turno entre dois aliados foi uma demonstração de força do Palácio do Planalto”, disse a consultoria.
A definição na Câmara favorável ao governo reforça um cenário que já vinha sendo considerado positivo para o mercado brasileiro por grandes gestores de investimentos internacionais, como a BlackRock e a Templeton. Para a BlackRock, Temer está deflagrando uma “grande mudança na direção econômica” do Brasil.
Alguns analistas ainda aguardam a confirmação da aprovação de reformas, que só deve ocorrer em maior ritmo após a conclusão do impeachment, para ampliar as apostas no Brasil. Os ganhos recentes da bolsa e a queda continuada do dólar, porém, mostram que pelo menos parte do mercado já antecipa este movimento.
No caso específico do dólar, alguns participantes do mercado consideram que apenas o BC poderia, neste momento, impor a interrupção da queda. “A única coisa que faria o dólar aliviar tendência de baixa ou até reverter seria intervenção não-programada, surpresa, do BC no câmbio. Acho difícil gestão atual do BC surpreender e oferecer intervenção intraday, mas não podemos descartar”, diz Cleber Alessie, operador de câmbio da H. Commcor.
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