Marfrig escapa de queda no mercado de bonds do Brasil

Por Gerson Freitas Jr. e Peter Millard.

A decisão da Marfrig de vender ativos no exterior e fechar plantas no Brasil, com o objetivo de cortar custos e reduzir seu elevado endividamento em meio ao aprofundamento da recessão, rendeu frutos no mercado de dívida.

As notas da Marfrig com vencimento em 2020, no valor total de US$ 680 milhões, renderam 5,7 por cento em 2015, o maior retorno entre os títulos emitidos por empresas brasileiras no exterior. Não é pouco. Em média, os bonds corporativos do país sofreram, no período, a maior perda em pelo menos 13 anos.

Para a Quesnell Capital e a Seaport Global Holdings, os papéis da Marfrig podem continuar se valorizando, à medida que a fornecedora de carne do McDonald’s e do Burger King promete se desfazer de ativos na Argentina e nos Estados Unidos e recomprar parte de sua dívida para melhorar seus indicadores de crédito.

“É preciso sentar e prestar atenção quando uma companhia vende ativos e reduz a alavancagem”, afirma Michael Roche, estrategista da Seaport. “No período em que estamos agora, é mais um modo de sobrevivência”.

Analistas consultados pelo Banco Central estimam que a recessão brasileira pode ser a mais profunda desde o início do século 20. A expectativa é de que, após uma retração de 3,7 por cento no passado, a economia sofra uma queda de 2,95 por cento em 2016.

Apesar do bom desempenho, os bonds da Marfrig ainda não refletem plenamente os ganhos operacionais obtidos com a reestruturação de suas operações, afirma Marcelo Di Lorenzo, diretor de relações com investidores da Marfrig. Para ele, as preocupações com o cenário macroeconômico pesam sobre os papéis.

“Embora sejamos uma empresa global, os investidores levam em conta o fato de que estamos no Brasil”, afirma o executivo.

Redução de dívidas

Em junho, a Marfrig vendeu suas operações de frango no Reino Unido por US$ 1,5 bilhão e, em outubro, recomprou US$ 406 milhões em títulos de dívida. As medidas ajudaram a reduzir a dívida líquida da empresa para cerca de quatro vezes os lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização no terceiro trimestre de 2015, o patamar mais baixo desde o final de 2010, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A produtora de carne pretende realizar novas recompras de bonds até novembro a fim de reduzir sua dívida bruta, afirma Di Lorenzo.

“Com a possibilidade de anunciar uma nova recompra de bonds, a Marfrig possui um catalisador de curto prazo que pode levar a um bom desempenho dos bonds”, afirma Ian McCall, gestor de recursos da Quesnell, com sede em Genebra, que administra US$ 250 milhões em dívidas de mercados emergentes, incluindo bonds da Marfrig.

Os yields sobre as notas da empresa que vencem em 2020 subiram 44 pontos-base nos últimos 12 meses, para 9,63 por cento, mostram dados compilados pela Bloomberg.

Desvalorização do real

A Marfrig está se beneficiando também com a queda do valor do real. A empresa tem operações em 11 países, e cerca de 80 por cento de sua receita é gerada em moeda estrangeira.

As exportações de carne bovina do Brasil devem crescer 10 por cento neste ano, para 1,76 milhão de toneladas, depois que mercados do Oriente Médio, incluindo a Arábia Saudita, suspenderam barreiras comerciais, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne, a Abiec.

“Quem ganha em dólares e tem custos domésticos vai estar no caminho do fluxo de dinheiro”, afirma Roche, da Seaport. “As empresas preferidas do Brasil são aquelas voltadas para o exterior”.

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