Por Mario Parker com a colaboração de Jennifer Jacobs e Jennifer A. Dlouhy.
Segundo seus cálculos aproximados, Kirby Hettver, um agricultor de Minnesota, poderia perder dezenas de milhares de dólares de lucros por causa do presidente dos EUA, Donald Trump.
Mas, apesar dos estragos que a guerra comercial com a China pode acabar provocando para Hettver e outros produtores de soja dos EUA, ele diz que o maior impacto financeiro ocorrerá se Trump modificar a exigência de etanol dos EUA, conhecida como Padrão de Combustível Renovável (RFS, na sigla em inglês).
As tarifas propostas que foram anunciadas na semana passada pela China se aplicariam a cerca de US$ 14 bilhões por ano em exportações de soja dos EUA, mas o RFS representa 38 por cento da safra de milho do país, avaliada em cerca de US$ 21 bilhões nos preços atuais. Além disso, ao contrário do que acontece no mercado de soja, onde outros compradores podem compensar a queda da demanda chinesa, a eliminação das leis dos EUA sobre o biocombustível poderia provocar uma verdadeira destruição da demanda.
Os agricultores “achavam que tinham votado em um governo que apoia a zona rural dos EUA” e agora estão nervosos, disse Wallace Tyner, economista da Universidade de Purdue em West Lafayette, Indiana.
O RFS exige que as refinarias misturem etanol, que é fabricado principalmente a partir do milho, e biodiesel, derivado da soja, com petróleo. Nos 13 anos transcorridos desde sua criação, essa exigência tem sido um motor fundamental da demanda por grãos. Mas o setor de petróleo reclama da lei e afirma que é caro demais cumpri-la.
Trump prometeu apoiar o RFS em comícios de campanha em estados do Centro-Oeste dos EUA, como Iowa, maior produtor de milho e etanol do país. Ele repetiu essa promessa depois da posse e, no quarto trimestre do ano passado, ordenou que o administrador da Agência de Proteção Ambiental, Scott Pruitt, não modificasse essa lei.
Depois, em janeiro, a maior refinaria de petróleo do litoral leste dos EUA entrou com um pedido de recuperação judicial e atribuiu a quebra ao custo de cumprir essa exigência. Isso reinseriu o assunto na agenda política e levou Trump a organizar reuniões – a mais recente delas na segunda-feira – para tentar fechar um acordo entre os grupos de pressão do petróleo e da agricultura.
Safra excedente
A ameaça à demanda por etanol chega em um momento em que a economia rural já sofre anos de excedentes de safras. O excesso de oferta desencadeou uma queda prolongada dos preços do grão e projeta-se que a renda dos agricultores americanos cairá para o valor mais baixo em 12 anos em 2018. Ao mesmo tempo, a China revidou a postura dura de Trump em relação ao comércio com um plano para impor tarifas a cerca de US$ 50 bilhões em importações dos EUA, inclusive sobre diversos produtos agrícolas.
Na segunda-feira, Trump admitiu que os agricultores poderiam enfrentar problemas por causa da guerra comercial. “Nossos agricultores são grandes patriotas”, disse Trump a jornalistas em Washington. “Eles compreendem que estão fazendo isso pelo país. Vamos compensá-los.”
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