Medidas do BCE em jogo mesmo com corte de taxa de depósito

Por Anchalee Worrachate com a colaboração de Lucy Meakin.

O Banco Central Europeu corre o risco de ficar um passo atrás do mercado, mesmo se diminuir sua taxa de depósito na semana que vem.

Um corte de dez pontos-base na taxa de -0,2 por cento, que serve de piso para o plano de compra de bonds do BCE, disponibilizaria imediatamente mais US$ 373 bilhões em títulos para o programa. A história mostra que essa quantidade poderia se evaporar rapidamente.

A instituição já está vendo uma prévia da reação provável. Cerca de US$ 453 bilhões de títulos que são elegíveis por seu vencimento caíram abaixo de -0,3 por cento desde a última reunião da instituição, segundo o índice Bloomberg Eurozone Sovereign Bond.

Com a eficácia das medidas de política econômica do banco central em jogo, o BCE poderia se ver em um círculo vicioso de ter que cortar constantemente as taxas para liberar mais títulos, só para investidores de bonds continuarem empurrando os yields ainda mais para baixo.

“O benefício de mais cortes da taxa de depósito sobre a disponibilidade de bonds será temporário na melhor das hipóteses”, disse Richard McGuire, diretor de estratégia de taxas do Rabobank International em Londres. “O BCE corre o risco de correr para alcançar isso e não conseguir comprar nenhum bond na linha da frente das curvas do núcleo do mercado”.

Provavelmente faça mais sentido que o BCE abandone o piso da taxa de depósito, disse McGuire.

Yields

Os yields em toda a região caíram e bateram recordes nesta semana. Bonds com vencimentos até 2020 agora rendem menos que a taxa de depósito. Os títulos foram impulsionados pela intensificação da especulação de que o BCE prolongará o estímulo no mês que vem para impedir que a inflação muito baixa se consolide.

O yield alemão de cinco anos caiu abaixo de -0,2 por cento pela primeira vez na sexta-feira, e estava a -0,196 por cento às 16h39, horário de Londres. O yield de notas de dois anos da Alemanha caiu para -0,429 por cento e da França recuou -0,343 por cento, recordes históricos em ambos os casos.

Um corte de dez pontos-base na taxa de depósitos da zona do euro está completamente precificado, segundo dados de futuros compilados pela Bloomberg, e alguns bancos como o Rabobank International e o DZ Bank AG preveem um movimento maior. O BCE também poderia estender ou expandir seu QE.

Como é provável que tais medidas enfraqueçam o euro, alguns bancos centrais, como o da Suíça e o da Dinamarca, poderiam aumentar suas intervenções comprando os principais bonds a fim de minimizar o efeito sobre suas próprias moedas, segundo o Commerzbank. Os últimos dados da agência de dívida soberana da Alemanha mostraram que os bancos centrais compraram 51,6 bilhões de euros (US$54,8 bilhões) mais de títulos do país do que eles venderam no primeiro semestre de 2015, uma alta de 31 por cento em relação ao ano anterior.

Preocupação

O BCE começou a comprar títulos de governos em março com a recuperação anêmica da região atrasada em relação ao restante do mundo desenvolvido. Quando os detalhes do plano foram revelados naquele mês, o que incluiu o uso da taxa de depósitos como piso, os yields das notas alemãs com vencimento em dois anos caíram para abaixo de -0,2 por cento e logo foram acompanhados pelos bonds da Áustria, Bélgica, França, Finlândia e Holanda.

Embora os primeiros oito meses de QE não tenham criado nenhuma perturbação importante no mercado, as preocupações de que os bonds elegíveis se tornarão escassos estão ressurgindo.

“Alguns sugerem que uma redução da taxa de depósito poderia aliviar a escassez, com a quantidade de bonds elegíveis acima dela aumentando, porém suspeitamos que possa ser ao contrário”, disse Christoph Rieger, diretor de estratégia de renda fixa do Commerzbank em Frankfurt. “À medida que os cortes nas taxas persistirem, uma grande parte das notas alemãs continuará operando abaixo de qualquer taxa nova de depósitos”.

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