Meganegócios testam limites da expansão das dívidas com US$ 250 bi em processo

Por Christine Idzelis e Sridhar Natarajan.

Os negociantes de Wall Street estão prestes a descobrir quanto tempo mais a farra das dívidas corporativas dos últimos sete anos poderá durar.

Com duas megafusões anunciadas nos últimos dois dias, os investidores em dívidas receberão pedidos de empréstimos de até US$ 120 bilhões para financiar as combinações das cervejarias Anheuser-Busch InBev NV e SABMiller Plc e das gigantes de tecnologia Dell Inc. e EMC Corp. As transações promovem, respectivamente, a maior venda de bonds corporativos da história, assim como uma oferta recorde de um emissor classificado com grau especulativo. O problema será encontrar uma demanda ampla para esses negócios — juntamente com pelo menos US$ 130 bilhões em bonds e empréstimos em andamento — em um mercado que teve recentemente um caso grave de indigestão.

“Se temos um ou dois desses para engolir em um mês, o mercado provavelmente consegue suportar”, disse Andy Toburen, gestor de recursos de alto rendimento da Chartwell Investment Partners, que supervisiona US$ 8,1 bilhões em ativos. “Se vem tudo de uma vez é muito coisa”.

As empresas estão correndo para tirar vantagem dos empréstimos baratos nos EUA antes de o Federal Reserve decidir elevar as taxas de juros, hoje em zero, pela primeira vez desde a crise financeira de 2008. Quase US$ 1,1 trilhão em bonds com grau de investimento foram vendidos neste ano, colocando 2015 a caminho de um recorde anual.

Surgimento de tensões

Recentemente, contudo, surgiram tensões. Apenas um emissor corporativo de grau especulativo conseguiu vender dívidas neste mês, um ritmo que o transformaria no outubro mais lento da história, segundo dados compilados pela Bloomberg. A seca surge após um terceiro trimestre que rendeu aos investidores em bonds de altos yields um prejuízo de 4,9 por cento, pior período de três meses desde 2011, mostram dados do índice do Bank of America Merrill Lynch.

A turbulência está fazendo com que esses juros baratos caiam rapidamente. O yield extra médio que os investidores exigiram para manter dívidas corporativas — da mais arriscada até a mais solvente — subiu para 2,74 pontos porcentuais neste mês, nível mais alto em três anos. Os compradores de bonds têm se mostrado particularmente preocupados com os efeitos da crise das commodities, que deixou mineradoras e produtoras de petróleo em dificuldades em relação ao gerenciamento dos montantes recorde de dívidas tomadas para financiar a produção.

Os investidores resgataram um total líquido de US$ 8,9 bilhões de fundos americanos de alto yield neste ano, enquanto os fundos mútuos dos EUA e os fundos negociados em bolsa que compram empréstimos alavancados viram cerca de US$ 11,7 bilhões em saídas líquidas, segundo a provedora de dados Lipper. Enquanto isso, a criação de obrigações de empréstimos colateralizados, maiores compradoras de empréstimos de alto rendimento, desacelerou.

Tudo isso está começando a perturbar os negócios das dívidas de maior risco. A Fullbeauty Brands LP, uma empresa varejista de vestuário de tamanho extragrande, está oferecendo um dos maiores descontos neste ano para concluir o acordo de empréstimo de US$ 1,2 bilhão que está financiando a aquisição da Apax Partners, disseram três fontes informadas sobre o assunto na terça-feira.

Financiamento da EMC

A Dell, que tem classificação de grau especulativo, está captando US$ 49,5 bilhões para financiar a aquisição da EMC, maior aquisição da história no setor de tecnologia, segundo uma declaração apresentada na terça-feira. A aquisição, que deverá ser concluída em outubro do ano que vem, se baseará em uma cesta de dívidas de grau de investimento e grau especulativo, disse uma fonte informada sobre o financiamento. Mesmo que apenas um quarto desse total seja captado no mercado de yields altos dos EUA, o montante superaria o recorde de US$ 8,5 bilhões emitidos pela Valeant Pharmaceuticals International Inc. neste ano.

A AB InBev está trabalhando com cerca de 10 bancos para chegar a um acordo de até US$ 70 bilhões em financiamento para sua aquisição de US$ 106 bilhões. Owen Murfin, gestor de recursos da BlackRock Inc., disse no mês passado que cerca de US$ 60 bilhões precisariam ser captados no mercado de bonds, o que excederia o recorde dos US$ 49 bilhões emitidos pela Verizon Communications Inc. em 2013.

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