Por Rachel Gamarski.
O chamado “time dos sonhos” do ministro da Fazenda,Henrique Meirelles, não anda mais nas nuvens, como no início de sua gestão. O próprio ministro e a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi, estão se desentendo, enquanto começa a esquentar a campanha eleitoral. Segundo quatro fontes ouvidas pela Bloomberg, ela tem tomado decisões técnicas sem coordenação prévia com a Fazenda que recentemente irritaram Meirelles, atualmente dedicado a evitar embates políticos em meio às discussões sobre a reforma da Previdência.
Respeitada por economistas, Vescovi argumenta internamente que a vigilância do Tribunal de Contas da União sobre as ações do Tesouro aumentou após as pedaladas fiscais e os problemas orçamentários da gestão anterior. Dentro do Tesouro, ela passa aos funcionários constantemente a importância de não incorrer nos mesmo erros. Possível candidato à presidência, Meirelles concorda que o governo não pode pedalar, mas argumenta que as decisões têm de ser coordenadas.
Em nota enviada à Bloomberg, a assessoria da Fazenda nega desentendimentos. “Não existe desentendimento entre o ministro e a secretária do Tesouro. Não existiram estas supostas divergências. Adicionalmente, a secretária esclarece que é servidora pública e não cogita a carreira política.”
Segundo as fontes ouvidas pela Bloomberg, o ministro ficou descontente ao retornar do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e descobrir que a Caixa Econômica, cujo conselho de administração é presidido por Vescovi, havia suspendido os empréstimos sem garantias concedidos aos estados e municípios. Meirelles não gostou do momento da decisão, pois ele não foi avisado, nem teve tempo de avisar o presidente Michel Temer sobre a medida – que desagradou políticos e colocou mais ruídos nas negociações em torno da reforma da Previdência.
Outro episódio ruim entre os dois aconteceu quando a secretária contradisse o ministro da Fazenda durante uma entrevista coletiva dela à imprensa. Baseada em informações técnicas, ela negou a jornalistas que o governo fosse conceder ajuda financeira ao Rio Grande do Norte durante a crise financeira do estado. O problema foi que Meirelles e Michel Temer haviam se reunido com governador do RN, Robinson Faria (PSD), e o presidente pediu que o ministro avaliasse as possibilidades de ajuda ao estado, que estava sem recursos para o pagamento de policiais.
Meirelles chegou, inclusive, a proibir entrevistas da secretária e pediu que ela se limitasse a anunciar o resultado fiscal do Tesouro em suas coletivas mensais, disseram duas das fontes. O ministro também reclama da forma como Vescovi se comunica com a imprensa. Isso foi o que aconteceu na semana passada quando, ao entregar um déficit fiscal menor do que a meta estabelecida pelo segundo ano consecutivo, ela disse que ”não tinha nada para comemorar”. Segundo duas das fontes, mais uma vez, Meirelles não gostou.
Vescovi, que foi secretária de Fazenda do Espírito Santo, chegou a cogitar, assim como seu atual chefe, mudar de ares e se candidatar a um cargo eletivo nas próximas eleições, mas acabou concluindo que não tem fôlego político suficiente, segundo pessoas próximas. Deve, então, continuar no ministério da Fazenda.
Como comandante da Fazenda, o ministro não gosta que assuntos relevantes saiam do seu controle. Nesse cenário, entre seus aliados no ministério, Meirelles tem buscado mais o secretário de política econômica, Fabio Kanczuk. Outros secretários também são mais próximos ao ministro do que Vescovi, como o responsável pela área de acompanhamento econômico, Mansueto Almeida, e seu novo assessor especial, João Manoel Pinho de Mello.
Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.