Por Josue Leonel com a colaboração de Davison Santana, Rafael Mendes e Vinícius Andrade.
A alta do dólar provocada pela crise política, que ganha novos contornos com a denúncia da Procuradoria Geral contra o presidente Michel Temer, pode ser limitada pelas contas externas do país. O déficit em conta corrente, que passou de US$ 100 bilhões no final do 1º governo de Dilma Rousseff, caiu para menos de um quinto deste valor, atingindo US$ 18,1 bi no acumulado em doze meses até maio.
As reservas, por sua vez, continuam em nível quase duas vezes maior ao existente antes da crise global de 2008. A relativa estabilidade do dólar dentro da atual faixa entre R$ 3,20 e R$ 3,40, que também vem sendo favorecida por um cenário externo positivo para os países emergentes, depende de o ambiente político não ter um agravamento muito maior, que inviabilize totalmente as já lentas reformas do governo.
“A situação do balanço de pagamentos do país é muito confortável”, dizAlberto Ramos, economista-chefe do banco Goldman Sachs em Nova York. Ramos prevê para até o fim do ano um câmbio em nível próximo ao atual, de R$ 3,25 a R$ 3,30. Ele reconhece, porém, que este cenário considera a possibilidade de o governo ainda conseguir aprovar parte de sua agenda de reformas, mesmo com a crise política.
Se o ruído político aumentar muito, o câmbio pode passar a precificar um cenário mais complexo, diz o economista do Goldman. Esse quadro mais difícil poderia se materializar no caso da não aprovação de nenhuma reforma ou até mesmo de uma mudança da Previdência inócua, com diminuição muito pequena dos gastos com aposentadorias. Outro risco a ser monitorado, diz Ramos, é o de o governo começar a adotar “benesses fiscais” como forma de assegurar apoio e defender seu mandato no Congresso.
Para Roberto Padovani, do Banco Votorantim, o noticiário político tem impacto limitado sobre preços dos ativos financeiros. “Boa parte dos investidores já havia antecipado esse cenário. A denúncia não é informação nova”, diz o economista. Para ele, o ambiente global vem ajudando a segurar a alta do dólar contra o real, diante de liquidez elevada, preços de commodities em recuperação e do dólar mais fraco no exterior.
Além das contas externas e da relativa tranquilidade da economia global, também a credibilidade da equipe econômica ajuda a evitar maiores sobressaltos no câmbio, diz Ivo Chermont, economista da Quantitas. Antigamente, com qualquer crise, o dólar explodia, mas hoje há segurança de que isso não se repetirá, diz Chermont. “O mercado ainda confia na equipe econômica, sabe que não serão adotadas medidas populistas. Essa é a segurança da crise, que parece diferente das outras”.
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