Mercado aumenta as apostas em redução da Selic

Por Josué Leonel com a colaboração de Marisa Castellani.

Crescem as chances de o Banco Central voltar a cortar os juros em outubro, após manter a taxa Selic em 14,25% desde julho do ano passado. O relatório de inflação divulgado hoje pelo BC mostrou uma inflação em torno da meta de 4,5% nos próximos dois anos. Para o mercado, o BC abriu ainda mais a porta para o início do afrouxamento monetário.

O corte de juros embutido nos contratos de DI, de juros futuros, para outubro subiu para 31 pontos nesta manhã após a divulgação do relatório do BC. A projeção está no meio caminho entre um corte de 0,25 ponto percentual ou 0,50 pp, mas sinaliza maior probabilidade de um corte moderado. Os investidores aguardam os próximos dados de inflação, sobretudo o IPCA de setembro, e a votação da PEC do teto dos gastos na comissão da Câmara para afinar as apostas.

O relatório trimestral de inflação mostrou a projeção do BC para o IPCA em 4,4% em 2017 e 3,8% em 2018 no cenário de referência, que considera juros e câmbio nos níveis atuais. Ambas as projeções ficaram abaixo do centro da meta de 4,5%. No cenário que considera as projeções do mercado, IPCA aparece em 4,9% em 2017 e 4,6% em 2018. “Mesmo num cenário que projeta um câmbio mais depreciado e juros menores, a inflação fica perto do centro da meta”, diz Alberto Ramos, economista-sênior do Goldman Sachs em Nova York.

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Os exercícios do BC indicam que, mesmo com juros mais baixos, continuaria a convergência de inflação em direção à meta, diz Roberto Padovani, economista do banco Votorantim. “O BC lista alguns fatores que melhoraram, outros que ainda sugerem cautela, mas nenhum dos avaliados é impeditivo para corte de juros na próxima reunião”. Entre os fatores que melhoraram estão a inflação de alimentos e sinais positivos na agenda fiscal. Entre os que ainda estão “inconclusivos”, está a inflação de serviços.

Além das projeções menores de inflação, o BC mostrou no relatório que o horizonte em que persegue a inflação na meta não é “estático”. Como o efeito dos juros sobre a inflação tende a demorar, as próximas decisões do Copom só devem começar a ter impacto na economia no final de 2017, com o grosso do efeito se estendendo para 2018. Como a inflação projetada pelo BC para prazos mais longos é menor, essa questão do horizonte também ajuda a alimentar as apostas no corte da Selic.

“O BC tem muita margem para começar a cortar os juros”, diz Ramos, do Goldman, que prevê um corte cauteloso, de 0,25 pp, mas não descarta totalmente uma redução de 0,50 pp em outubro. Para o economista, a questão mais importante não é quanto o BC vai cortar agora, e sim quanto vai ser o ciclo total de corte.

Um ciclo maior de cortes da Selic exigiria a aprovação de reformas consistentes e a estabilização da inflação em níveis muito menores. Para o BC fazer um corte pequeno agora, o cenário mostrado hoje, de inflação convergindo para a meta e algum avanço de perspectiva na área fiscal, pode ser suficiente, diz Ramos. “O que o BC quer é que o processo esteja melhorando”.

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