Por Javier Blas.
Os investidores que apostam na alta do petróleo pensavam que 2020 seria um grande ano.
Depois de meia década de gastos mais baixos em novos projetos, o crescimento da produção de petróleo deveria diminuir até chegar a apenas uma gota, em um contexto de uma demanda sob pressão diante de uma grande transformação no mercado de combustíveis marítimos. Muitos comentaristas do mercado previam que, se a cotação voltasse a atingir US$ 100 o barril, isso aconteceria em 2020.
O otimismo está passando rápido. A primeira análise oficial de 2020 veio da Agência Internacional de Energia na sexta-feira, mas uma primeira avaliação das previsões de consultores e traders para os saldos de oferta e demanda mostram superávits persistentes, não o déficit que deveria sustentar os preços em alta.
Os culpados: o aumento da produção de xisto, a desaceleração da economia global e a perspectiva de escalada da guerra comercial.
“Os saldos para 2020 já eram preocupantes, e a demanda mais baixa que estamos contemplando colocou esses saldos potencialmente em uma categoria ’feia’”, disse Roger Diwan, consultor da IHS Markit que monitora os dados da Opep.
Consultores e operadores petróleo já fizeram uma primeira tentativa, e seus resultados de oferta e demanda mostram, na melhor das hipóteses, um mercado equilibrado. Muitos preveem que a oferta vai exceder o consumo, talvez por uma grande margem.
O mercado de petróleo, mostrando características típicas das ações, já começa a refletir um potencial excedente em 2020. Apesar de um mercado físico apertado devido à crise desencadeada pela contaminação do gasoduto da Rússia e sanções dos Estados Unidos contra o Irã e a Venezuela, as cotações petróleo caíram para menos de US$ 60 na semana passada, uma queda de mais de 20% em relação aos US$ 75 no fim de abril.
“O mercado se pergunta por que deveria ter posições compradas por apenas três meses quando o futuro parece sombrio”, disse Amrita Sen, analista-chefe de petróleo da Energy Aspects.
A perspectiva pessimista para o ano que vem é um problema para a aliança Opep+, liderada pela Arábia Saudita e pela Rússia. Se a previsão para 2020 for correta, o grupo pode ser forçado a manter o corte de produção por mais tempo do que o previsto inicialmente com o objetivo de evitar um aumento dos estoques globais de petróleo.
A aliança Opep+ deve se reunir nas próximas semanas em Viena para discutir a política de produção para o segundo semestre de 2019.
Os investidores que apostavam na valorização do petróleo não estavam completamente errados na análise para o ano que vem: as mudanças nos combustíveis de navios, que deverão reduzir o teor de enxofre, conhecidas como IMO 2020, certamente vão impulsionar a demanda por diesel, talvez empurrando aquele segmento específico do mercado de petróleo para um déficit. No entanto, o crescimento da oferta, alimentado por um setor de xisto dos EUA resiliente, continua a surpreender.