Por Luke Kawa
Será preciso mais de uma dose de depreciação do yuan e de queda dos preços dos metais para apavorar os mercados globais desta vez.
Investidores estão tendo flashbacks, lembrando de 2015 e 2016, temendo o que vai acontecer com o complexo industrial da China em uma guerra comercial. No entanto, os mercados dificilmente vão encarar o monstro deflacionário do passado.
Os motivos vão desde a força da indústria nos EUA à resistência do ciclo do crédito.
Um fator é que o preço do petróleo está bem mais alto do que há três anos, embalando outros ativos atrelados a commodities e dando sinais benignos a respeito do ciclo de crescimento global.
Em 2015, a falta de atitude dos grandes produtores para lidar com o excesso de oferta deprimia o preço do barril. Hoje, os estoques diminuem e o preço sobe apesar do aumento da produção de petróleo.
Para o Bank of America, a cotação se manterá firme e o mercado de petróleo permanecerá em déficit estrutural pela maior parte dos próximos seis trimestres.
A ascensão do petróleo impulsiona os chamados junk bonds, ou títulos de dívida de alto risco — classe de ativos considerada o canário na mina de carvão para o ciclo de negócios nos EUA. Usado como referência, o fundo negociado em bolsa iShares iBoxx High Yield Corporate Bond ETF está em alta neste ano, comparado a uma queda de 5 por cento em 2015.
As “chances de um ciclo de crédito se desdobrar são menores hoje do que imediatamente após o colapso dos ativos de energia/commodities/mercados emergentes e a caminho da incerteza sobre o Brexit no meio de 2016”, segundo relatório de estrategistas do BofA.
A resistência dos créditos de alto rendimento é disseminada: os prêmios encolheram para diversos setores neste ano, contrastando com a disparada dos spreads em 2015.
Embora o crescimento global não esteja mais tão pujante, a indústria ao redor do mundo – especialmente nos EUA – está mais sólida. Índices mensais que acompanham a compra de insumos pelas fábricas apontam para expansão firme. Em 2016, esses dados mostravam estagnação.
A exportação de deflação pela China via depreciação cambial ficou mais difícil, segundo Neil Dutta, economista-chefe para os EUA da Renaissance Macro Research.
“No segundo semestre de 2015, o núcleo de inflação no gasto pessoal rodava a uma taxa anualizada de apenas 1,3 por cento”, ele ressaltou. “Agora passa de 2 por cento em seis meses, o que implica a existência de algum espaço para lidar com as consequências deflacionárias do fortalecimento do dólar.”
E os investidores estão otimistas.
O custo baixo dos contratos de opção que oferecem ganhos se o índice de preços ao consumidor tiver variação anual média inferior a zero nos próximos dois anos mostra como o ambiente nos EUA é diferente de 2015.
O risco associado ao programa oficial Made in China não deve ser superestimado. No início de 2016, as atenções se voltaram para a estabilidade financeira da China, a aceleração da fuga de capitais e a expectativa de contínua depreciação cambial enquanto as empresas tentavam solucionar descasamentos entre ativos e passivos. Essa dinâmica não apareceu mais.
“As saídas reais de capital são administráveis porque as expectativas de depreciação da moeda chinesa permanecem bastante estáveis”, afirmou a estrategista do Macquarie, Teresa Lam, em relatório. “Isso deve aliviar a preocupação do mercado de que a fraqueza da moeda chinesa foi deflagrada por saídas significativas dos investimentos em carteira.”
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