Mercado minimiza ‘risco-PEC’ e se anima com Previdência

Por Josué Leonel.

A gravidade do noticiário político não bate com o comportamento do mercado. Mesmo no momento mais ruidoso da tensão entre Congresso e Judiciário, após a liminar que determinou o afastamento de Renan Calheiros da presidência do Senado, o dólar se manteve em baixa e a bolsa, em alta. As apostas em corte dos juros, por sua vez, seguiram aumentando. O otimismo diminuiu, sobretudo para o crescimento em 2017, mas o viés do mercado sobre as perspectivas para o Brasil segue positivo.

A possibilidade de um acordo entre os três poderes que viabilize a aprovação da lei que limita o crescimento dos gastos ajuda a manter sob controle os nervos do mercado. Um eventual adiamento da PEC teria o aspecto negativo de mostrar a dificuldade do governo com o quadro político, mas “não seria uma tragédia”, diz Mauricio Oreng, estrategista-sênior do Banco Rabobank no Brasil.

O adiamento da PEC para fevereiro seria o “pior cenário”, pois ainda há a possibilidade de alguma solução que permita votar a medida este ano, diz Oreng. Ele lembra ainda como positivo o fato de a Previdência, “a mais importante de todas as reformas”, ter começado a tramitar no Congresso esta semana.

Mesmo que a aprovação da PEC do teto fique para o começo do próximo ano, o governo ainda terá como administrar o orçamento, diz Rodrigo Borges, chefe de renda fixa da Franklin Templeton do Brasil. O executivo admite que o mercado está “muito sensível” ao noticiário político devido ao peso que as reformas podem ter no cenário de médio e longo prazo no país.

A reforma da Previdência, se passar pelo Congresso em 2017 sem ser muito desfigurada, deve favorecer o crescimento, criando “ciclo virtuoso” para o país, diz Borges. A aprovação das reformas poderia se somar à queda dos juros, com a Selic podendo chegar a 10% ou menos no próximo ano, e à redução do endividamento das famílias e empresas. Estes fatores se materializariam em 2017, mas teriam efeito na atividade do ano seguinte. Com isso, o crescimento poderia ser aproximar de 3%, acima do PIB de +2,4% estimado pelo mercado na pesquisa Focus do Banco Central.

O cenário externo, sobretudo a partir da vitória de Donald Trump nos EUA, passou a ser visto como um fator de maior incerteza para o Brasil, mas com efeito ainda relativamente limitado nas expectativas. Oreng, do Rabobank, aumentou suas projeções para o dólar, mas sem se distanciar muito do nível atual, para R$ 3,50 em 2017 e R$ 3,30 em 2018. O economista se diz cético quanto à capacidade de Trump de promover mudanças drásticas na área fiscal e comercial, como parte do mercado receia.

O quadro externo mais incerto também pode trazer oportunidades. Se o Brasil aprovar as reformas, se apresentará como um país emergente diferenciado, com maior potencial de receber investimentos mesmo um um ambiente mais complicado no exterior, diz Borges. Nesse sentido, embora o descarrilamento das reformas seja um risco a ser monitorado, a aprovação das mudanças pode, por sua vez, colocar o país em um novo estágio em termos de imagem perante o investidor. “O Brasil está em uma encruzilhada”, diz o gestor da Templeton.

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