Por Josue Leonel, Patricia Lara e Fernando Travaglini.
O mercado brasileiro subestima os riscos associados à eleição presidencial, que deve gerar mais volatilidade nos ativos financeiros até o fim do ano, afirma Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio-diretor da Tendências Consultoria, em entrevista no escritório da Bloomberg em São Paulo.
O entusiasmo de parte do mercado com a defesa das reformas feitas mais recentemente pelo candidato Jair Bolsonaro, líder nas pesquisas sem o ex-presidente Lula, ignoraria os riscos de governabilidade que devem emergir se for eleito um candidato sem base parlamentar. “Não adianta ter boas ideias e zero de apoio no Congresso”, diz Loyola.
Logo no início do governo poderá haver uma reversão do humor dos investidores à medida que fique claro que o novo presidente não conseguirá entregar suas propostas, afirma Loyola. Bolsonaro, um “recém convertido” às reformas, é assessorado por Paulo Guedes, um economista de perfil liberal, mas que não tem experiência em cargos públicos.
Risco PT
Outro risco minimizado pelo mercado seria o de vitória da esquerda. Caso se confirme um elevado grau de transferência de votos de Lula, o candidato petista – que tende a ser Fernando Haddad – teria a ida garantida ao segundo turno, avalia o ex-presidente do BC.
Ainda que Haddad seja visto como um petista pragmático, ele não teria a mesma liderança que teve Lula para não se submeter à agenda mais esquerdista do partido. “O PT hoje tem uma agenda mais radical”, segundo Loyola.
Loyola vê Geraldo Alckmin como o nome com maior potencial de ser bem recebido pelo mercado em caso de vitória. O maior desafio para o ex-governador continua sendo deslanchar nas pesquisas e superar Bolsonaro. O ex-capitão do exército vem tendo a preferência do eleitorado conservador que vinha optando justamente pelo PSDB nas últimas eleições.
Pesquisa CNT-MDA divulgada nesta quarta-feira, com as intenções de votos em São Paulo, reafirmou a liderança do candidato do PSL, com 18,9%, ante 15% de Alckmin, 8,4% de Marina Silva e 8,3% de Haddad no cenário sem Lula.
Diferentes cenários
O diretor da Tendências considera três cenários para o Brasil após as eleições. O mais provável, com 55% de chance, é o moderado, com um governo reformista que, dada a circunstância política, não faria as reformas em sua plenitude, levando a um crescimento médio de 2,5% ao ano, em meio a um quadro externo neutro.
O cenário mais pessimista, com 35% de chance, é visto como muito mais provável que o positivo, com apenas 10%. No pessimista, assume um governo não-reformista em uma conjuntura internacional complicada, levando a um crescimento anual de até 1%. Já o quadro otimista exige um governo pró-reformas e com capacidade de aprová-las no Congresso, além de ser beneficiado por um exterior benigno.
Embora espere mais volatilidade, Loyola pondera que o Banco Central conta com reservas elevadas e pode minimizar a pressão sobre o dólar. Mercados menos expostos à intervenção, como juros e bolsa, poderiam oscilar mais.
O ex-BC também não considera, mesmo em seu cenário mais negativo, o risco de o país entrar numa crise à la Venezuela. Ele confia que as instituições do país tendem a limitar o potencial de os governos promoverem políticas mais extremistas na economia.
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